O melhor pedaço da Maçã.

Review de livro: “Revolution in The Valley”, de Andy Hertzfeld

Capa do livro - Revolution in The Valley

por Rodrigo Stulzer

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Logo depois que li o livro iCon, comecei o Revolution in The Valley. Ao contrário do primeiro, que se foca na vida de Steve Jobs, este acompanha um período específico da vida da Apple: a criação e o desenvolvimento do Macintosh.

Capa do livro - Revolution in The Valley

A história se passa entre agosto de 1979 e maio de 1985, terminando quase um ano e meio após o primeiro Macintosh ter sido lançado. Ela é contada por um dos principais desenvolveres do projeto, Andy Hertzfeld, sob a forma de histórias curtas, umas relacionadas com as outras. Apesar de ter algumas contadas por outros desenvolvedores, a grande maioria é do próprio Hertzfeld.

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Trabalhando na Apple deste 1979, Hertzfeld ouviu falar do projeto do Macintosh quando ainda estava na divisão do Apple II. Ele gostou do projeto e da maneira como era desenvolvido: um computador simples, voltado para as massas, mas com a mesma interface gráfica revolucionária do Lisa, que tinha um preço proibitivo. O Mac, ao contrário, deveria custar bem pouco sob o ponto de vista de Jef Raskin, o cabeça do projeto e o visionário por trás da ideia inicial.

Capa da Macworld com Steve Jobs no lançamento do Macintosh

Como relatado em iCon, Steve Jobs resolveu abandonar o projeto do Lisa quando viu que ele estava afundando, pelos altos custos do computador e pelos atrasos constantes. Foi aí que descobriu o projeto do Macintosh e deu um jeito de tomar o lugar de Raskin. Hertzfeld entrou mais ou menos nessa época e conta que estava trabalhando em umas rotinas do Apple II quando Jobs apareceu na sua sala e disse: “Parabéns, agora você faz parte do time do Macintosh.”

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Andy ficou muito feliz e disse que precisaria de um ou dois dias para acabar o que estava fazendo e repassar o código para outro colega. Jobs não titubeou e arrancou o computador da tomada, fazendo Hertzfeld perder várias horas de trabalho. “Não perca tempo trabalhando no Apple II, ele estará morto em um ano”, disse o cofundador da Maçã, pegando a máquina embaixo do braço e levando Hertzfeld para seu novo lugar de trabalho.

E é neste espírito que Hertzfeld conta suas histórias. De detalhes simples como quando eles compraram uma máquina do jogo Defender para relaxar após longas horas de trabalho, passando por partes mais pesadas, quando revela que eles eram muito badalados, mas ganhavam muito menos que o time de desenvolvedores do Lisa, Hertzfeld envolve o leitor e o leva de volta ao início dos anos 1980, nas longas tardes de sol da Califórnia.

Time do Macintosh na Apple, em 1985

O livro conta com mais de 18 personagens, todos do time do Macintosh. A maioria eram programadores ou desenvolveres de hardware, mas tinha também o pessoal de marketing, design e financeiro. O projeto do Mac ficou por um bom tempo meio obscuro dentro da empresa, só ganhando importância nos seus dois últimos anos de desenvolvimento. As razões disso eram duas: 1. porque muitos não acreditavam que aquele bando de malucos conseguisse chegar com um computador pronto ao final do projeto, e 2. porque todos os olhos estavam voltados para o Lisa, este sim um computador “sério”.

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Mas Jobs soube fazer de suas mágicas. Dava palpite em tudo e foi mudando o projeto inicial de Raskin, imprimindo a sua própria marca. Desde o design vertical — inovador, para a época — até a introdução do mouse, quase tudo foi obra dele. Claro que Jobs não inventou isso, conseguiu vendo os projetos da Xerox, no já mítico laboratório PARC, em Palo Alto. Mas ele soube aproveitar estas oportunidades para impulsionar um time excepcional de desenvolvedores.

Pirâmide de engenheiros da Apple

Quase todos na faixa dos 20 e poucos anos, esse pessoal não tinha ninguém a quem dar satisfações em casa. Dedicavam-se a mais de 90 horas de trabalho por semana, virando madrugadas pelo simples prazer de construir um computador que todos acreditavam poder mudar o mundo. Como o próprio Jobs falava, incentivando-os a dar o melhor de si para “deixar a sua marca no Universo”.

Time da Apple

Lá se encontravam pessoas como Bill Atkinson, um gênio na programação, que desenvolveu sozinho todo o MacPaint — software de desenho revolucionário para a época —, junto com muitas ferramentas primitivas de programação que serviram de base para o sistema de janelas do Macintosh. Outro gênio era Burrell Smith, um técnico que inspecionava Apple IIs que voltavam com problemas para a fábrica, mas que virou o principal arquiteto de hardware do Macintosh, encontrando soluções simples e elegantes para o desenho da máquina, assim como Steve Wozniak havia feito com o Apple II. E também Susan Kare, que não programava nada, mas foi a responsável por todos os ícones e o desenvolvimento de várias fontes do Macintosh.

Time da Apple

Andy consegue capturar a essência de cada pessoa e repassar para o leitor. Com ele descobrimos que Burrell (o gênio do hardware) era muito tímido e sofria para se comunicar com as outras pessoas; que a maioria do time ia trabalhar de bermuda e camiseta, barbudos e de cabelos longos; que eles eram instigados a todo tempo por Jobs para serem diferentes, apreciadores do bom design e ao mesmo tempo “piratas”, que não se dobravam ao status quo então vigente.

Jobs conseguiu reviver o clima de startup naquela equipe que começou pequena, mas que, nos meses finais, antes do lançamento, já contava com algumas dezenas de pessoas. Eles viveram num tempo em que ainda era possível fazer um computador do zero, com pequenos grupos, trabalhando juntos e discutindo cada aspecto do sistema.

Steve Jobs e Bill Atkinson

O Macintosh foi revolucionário para a época. Um sistema no qual o usuário utilizava uma interface gráfica e um aparelho chamado mouse para interagir com janelas num desktop virtual. Soa familiar para você? Pois naquela época os computadores eram operados somente pelas interfaces de linha de comando, com suas crípticas telas pretas.

O livro está recheado reproduções de anotações à mão, mostrando a construção dos primeiros programas e protótipos de telas. Apesar de ter algumas passagens mais obscuras, em que Andy explica como implementou um ou outro programa, o livro é muito gostoso de ler. Entra-se na cabeça das pessoas, entendendo porque elas se dedicaram tanto para criar uma máquina que sobreviveu a seu tempo.

Se naquela época o mundo não conseguiu assimilar as vantagens do Macintosh, com o mundo corporativo se rendendo ao IBM-PC e ao DOS, o tempo soube amadurecer os detalhes refinados da Maçã, que hoje em dia atrai milhões de usuários espalhados pelo globo.

Revolution in The Valley é um livro que disseca a construção de um computador em todas as suas nuances de software e hardware. Andy Hertzfeld consegue transformar um tema aparentemente frio em uma aventura de dedicação, paixão e luta por um objetivo e um ideal. Não sei se Jobs acreditava realmente na história de “deixarem a sua marca no Universo”, mas no final das contas eles realmente conseguiram.

Todas as histórias do livro podem ser encontradas no Folklore.org.

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Rodrigo Stulzer mantém o blog Transpirando.com, onde conta as suas aventuras esportivas, auxiliado por um MacBook Pro e o iMovie.

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