Conforme os AirPods vão trilhando o caminho para se tornarem possivelmente o produto de maior sucesso da Apple na década, também vão surgindo críticas relacionadas aos fones sem fio — direcionadas, principalmente, à sua natureza descartável ou à bateria que não dura mais que um ano e meio sem apresentar perda grave e significativa de capacidade.
No início do mês, a VICE publicou um longo artigo encapsulando todos esses problemas e, além disso, analisando os AirPods pelo viés da semiótica social — ou, em outras palavras, contrapondo as três faces do produto: a de símbolo de classe e status, a da manufatura realizada por fábricas de condição sub-humana em países emergentes e a do artefato descartável, cujos componentes permanecerão na terra sem decomposição por muitos séculos depois que seus donos perecerem.
O artigo é bem interessante e vale a pena ser lido — de fato, tanta gente leu e repercutiu seu conteúdo que até a Apple, notoriamente seletiva com relação às matérias e reportagens que comenta por meio da sua assessoria de imprensa, resolveu se pronunciar.
Em um comunicado enviado à revista digital OneZero, a Apple resolveu focar nos aspectos ambientais pertinentes aos AirPods. A empresa não negou que os fones são basicamente descartáveis e impossíveis de reparar, e também admitiu que a perda de capacidade das suas baterias é real e significativa — adicionando, entretanto, que esses são problemas atualmente incontornáveis, considerando o estado atual das tecnologias ali aplicadas.
A empresa notou também que os problemas apresentados pelo artigo da VICE não são exclusivos dos AirPods e se repetem em basicamente qualquer aparelho eletrônico moderno — o que, na opinião deste que vos escreve, parece evidenciar uma certa falta de compreensão da Maçã em relação à temática maior do texto, mas divago.
Em um ponto, a Apple é bem enfática na sua resposta: o artigo não ressalta, em nenhum momento, que a empresa mantém um programa de reciclagem para os AirPods, assim como o tem para toda a sua linha de produtos. É possível entregar os fones velhos nas lojas da Apple ou em suas parceiras de reciclagem — ou até mesmo, nos Estados Unidos, solicitar o envio gratuito dos dispositivos à Maçã por uma transportadora.
A Apple colocou a OneZero em contato com a Wistron GreenTech, uma das parceiras de reciclagem da companhia que cuida do desmonte/reaproveitamento de partes dos AirPods. As descobertas da revista, entretanto, não foram muito animadoras: não há, como no iPhone, uma máquina específica para desmontar os AirPods e assegurar aproveitamento máximo dos componentes; os minúsculos fones são abertos à força bruta pelos empregados da fábrica com ferramentas manuais, removendo as peças recicláveis (bateria e drivers de áudio) e descartando o restante.
Mais desanimador é perceber que a própria Wistron confirma que o processo é deficitário — isto é, os custos envolvidos nesse desmonte e reciclagem não cobrem os ganhos gerados pelo reaproveitamento dos materiais valiosos, como cobalto. A própria Apple paga a empresa para cobrir os custos da reciclagem, mas não há nenhuma garantia de que esse pagamento (e, portanto, a prática) permaneça no futuro, quando a quantidade de AirPods descartados começará a aumentar conforme os fones vão ficando velhos.
No fim das contas, fica o lembrete de que, mesmo enviando seus AirPods à reciclagem, isso não significa que eles magicamente serão repostos na natureza como materiais ecologicamente amigáveis. E, como lembra Kevin Purdy, da iFixit, a natureza descartável dos fones não é exatamente inevitável: basta ver os Galaxy Buds, da Samsung, que são facilmente desmontáveis e receberam uma boa nota no índice de reparabilidade do site (seis, ao contrário da nota zero recebida pelos AirPods).
Já que a Maçã adora se colocar como defensora do meio ambiente, não seria o caso de voltar à prancha de desenho e pensar em alternativas para tornar os (cada vez mais ubíquos) AirPods mais amigáveis ao planeta Terra? Deixem vossas opiniões logo abaixo.
via AppleInsider