O MacMagazine tomou conhecimento hoje de um projeto bastante interessante que envolve TV digital e interatividade com iPhones/iPods touch. Como pouquíssima gente já tem acesso à tecnologia no Brasil — incluindo este que vos escreve, que ainda não brincou com a novidade —, tentamos esclarecer neste artigo ao máximo como a coisa funciona.
Quem entrou em contato conosco foi o Bruno Seabra Nogueira Mendonça Lima, pesquisador do Laboratório Telemídia da PUC do Rio de Janeiro. O Telemídia, em conjunto com o LAVID da UFPB, para quem não sabe, é responsável pela criação e manutenção do Ginga — camada de software que dá suporte à interatividade na TV digital.
O Ginga roda no receptor (set-up-box) de TV digital e é responsável por promover diversas funcionalidades inovadoras, entre elas a interatividade do telespectador com um programa de TV. O Ginga é composto por duas partes: o Ginga-NCL (padrão normatizado pela ABNT), que utiliza a linguagem NCL como base de programação, e o Ginga-J, que utiliza a linguagem Java como base de programação. “A função do Ginga é abstrair as particularidades do hardware dos diferentes modelos de receptores, fazendo com que autores de aplicações multimídia possam escrever essas aplicações de maneira independente do hardware”, explica o Bruno.
Dentre as suas principais vantagens em relação a outras soluções existentes no mundo, estão o fato de o Ginga ser o único middleware com implementação em código aberto, o suporte à edição ao vivo de programas interativos e o suporte a múltiplos dispositivos (e é aqui que entra o tema principal deste post). Vale ressaltar que o Ginga é uma contribuição 100% nacional para o sistema de TV digital brasileiro.
O Telemídia anunciou que está trabalhando no desenvolvimento do middleware Ginga (passivo) para plataforma móvel da Apple, abrindo portas para a interação com aplicações diversas de TV digital em iPhones/iPods touch. O mais interessante é que o Sistema Brasileiro de TV Digital é o único no mundo que permite tal tecnologia, então estamos saindo na frente.
Com o suporte a múltiplos dispositivos, o Ginga abre portas para interatividade com a aplicação interativa originada de diversas fontes. Por exemplo, é possível que dispositivos como um smartphone/celular possam receber as mídias do receptor, executá-las na sua própria tela e enviar de volta ao set-top box comandos de interação — no caso especial do iPhone, o toque na tela.
Com esta tecnologia, o Bruno levanta a possibilidade de termos o seguinte cenário: um jogo de futebol está passando na televisão e um lance polêmico acontece (um pênalti não marcado, por exemplo). Através da edição ao vivo, a emissora pode mandar uma aplicação interativa (tira-teima), mas você não está assistindo sozinho ao jogo, ou somente a você interessa ver o tira-teima. Então, através do iPhone, pode-se ativar a interatividade e a aplicação é disparada somente no aparelho. Desta maneira, a pessoa não atrapalha os outros que estiverem assistindo ao jogo, mas ainda assim tem acesso ao tira-teima (quantas vezes quiser).
Participantes do iPhone Developer Program desde meados de março, o pessoal do Telemídia já está em fase de testes final do aplicativo Ginga para iPhones/iPods touch — que, quando pronto, será disponibilizado gratuitamente na App Store. Ele se comunicará com o receptor via Wi-Fi, mas eles já trabalham numa forma de abstrair o tipo de conexão, permitindo o uso também por dispositivos que só tenham Bluetooth.