O melhor pedaço da Maçã.

Nos primeiros dias de iPad App Store, grandes veículos que não têm bom senso estão levando a pior

Eu avisei: querer cobrar um absurdo por conteúdo disponível gratuitamente não rola. Querer proteger métodos tradicionais de distribuição entravando sistemas nascentes também não é nada inteligente. O resultado, vemos num levantamento feito pelo paidContent: os grandes provedores de conteúdo com apps gratuitos estão no topo das listas de mais baixados; já os que oferecem apps pagos, esses não chegaram nem perto de um Top Whatever.

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Não é preciso ter um diploma em Economia nem ser um gênio para entender o que está acontecendo. Pessoas com inteligência limitada acham que os consumidores vão pagar (caro) para ter um PDF de luxo num gadget, quando o mesmo conteúdo está disponível, se não de graça, mas por um preço bem mais acessível no site da própria publicação. Em outras palavras, se eu posso usar o Mobile Safari, por que eu vou comprar um app que não tem nada de mais? Duh.

Kevin Anderson, do Strange Attractor, escreveu um artigo relacionado a isso com o qual eu concordo em inúmeros aspectos.

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Tomemos como exemplo mais bizarro a revista TIME: ela cobra US$5 por cada edição para iPad (64,1MB; esse é o mesmo preço da revista de papel, diga-se), mas com um pequeno detalhe: você ganha alguns poucos conteúdos extras e perde funções que estão disponíveis no site! Ao contrário do TIME.com, gratuito, você não tem como marcar artigos favoritos, não tem como compartilhar via Twitter, Facebook, etc. E mais: você tem que comprar cada edição como um app isolado, o que vira um inferno pra gerenciar! “Mas você tem o conteúdo offline!”, alguns podem argumentar. E eu faço o que, com esse conteúdo trancafiado dentro de um binário?

Agora vejamos o caso do The Wall Street Journal, que está entre os apps gratuitos mais baixados. O app dele para iPad (4,3MB) requer uma assinatura de US$18/mês para acesso total ao conteúdo. Acho que estaria ok (especialmente por salvar uma semana de conteúdo offline e permitir que você marque artigos para ler depois), não fosse pelo fato de o acesso irrestrito ao site custar US$2/semana e a edição de papel custar US$2,30/semana (as duas, combinadas, custam US$2,70/semana).

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Quer dizer que as propagandas no site rendem pro jornal US$10 mensais por leitor? Ou as funções extras é que custam esse tanto para implementar? Imprimir a edição de papel, entregá-la na casa do leitor _e_ liberar o site é mais barato que o acesso ao app para iPad?! É confuso, especialmente porque a tablet torna o acesso ao site muito mais agradável e simples, tornando o app menos relevante.

Comparando essas táticas com o que o Financial Times pretende fazer no seu app e com o que o jornal O Globo já está pondo em prática em seu site, temos como avaliar melhor o que foi exposto acima. Todo mundo sabe que a melhor forma de conquistar uma audiência é dar um gostinho do produto para só depois começar a cobrar por ele, e é isso o que esse veículos pretendem fazer. De início, o acesso ao conteúdo em seu app/site para iPad será gratuito; com um tempo (dois meses, no caso do FT; sem previsão, para O Globo), haverá um programa de assinaturas digitais. Tendo em vista a tragicomédia que são os preços já em prática, esperemos que estes provedores aprendam com os erros dos outros.

No final das contas, quer cobrar pelo conteúdo? COBRE! Eu apoio abertamente — tanto que eu ainda compro CDs de artistas que valorizo. Só não cometa o mesmo erro da Wolfram, pelamordeDeus: não queira vender um serviço por um preço elevado quando ele está disponível de graça ou muito mais em conta bem ali na esquina. Ou, pelo menos, faça seu produto premium valer a pena de verdade.

Tomara só que não aconteça o que muita gente está dizendo por aí: que essas publicações no iPad não se tornem a volta do CD-ROM interativo, que foi um tremendo sucesso e até hoje é usado. Heh. 😛

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