Existem certas manias que são difíceis de largarmos, bem como alguns conceitos que simplesmente não saem da nossa cabeça. Mas a dica de hoje é muito básica e você, usuário de iPhone/iPad, precisa tentar incorporá-la.
Antes de eu entrar nos pormenores da questão, vamos diretamente ao cerne: pare *agora* de fechar apps manualmente no iOS, pois você só está piorando as coisas. Fazendo isso você está obtendo um resultado justamente oposto ao que imagina, que é de liberar memória (RAM) no seu dispositivo e economizar bateria.
Se quiser entender o que ocorre, continue lendo.
O tema obviamente não é nada novo; ele foi trazido à tona esta semana por John Gruber, do blog Daring Fireball. Resumidamente, esse “vício” que muitos têm de sair jogando as janelinhas dos apps para cima a fim de fechá-los é, em boa parte, culpa da própria Apple.
O iOS é um sistema operacional ainda muito novo, portanto também muito moderno. O seu próprio ambiente multitarefa só surgiu na versão 4, em 2010, e vem sendo aprimorado desde então. Porém o mais importante é sabermos que, desde essa concepção, a Apple trabalhou para tornar a coisa muito, muito inteligente e otimizada.
Já naquela época, respondendo a um email de um consumidor, Steve Jobs afirmou:
Simplesmente use [a multitarefa do iOS] como ela foi desenhada, e você será feliz. Não há nunca necessidade de fechar apps.
Nós mesmos cobrimos esse assunto aqui no site em março do ano passado, quando Craig Federighi — vice-presidente sênior de engenharia de software da Apple — respondeu de forma contundente um email de outro cliente, dizendo a mesma coisa: não se deve fechar apps manualmente no iOS e isso não contribui com a autonomia da bateria.
Quando eu digo que é “culpa da Apple”, refiro-me à forma como funciona a interface de multitarefa do iOS. Ela mudou bastante desde que chegou ao sistema operacional, mas hoje em dia basicamente apresenta (ao darmos um duplo-clique no botão de Início) todas as janelas dos apps “abertos” numa espécie de pilha que você vai rolando indefinidamente para a esquerda. E ela não tem limite, ou seja, se você abriu um app há um mês e não “jogou a janelinha dele para cima”, ele aparecerá lá do fim da fila e você verá na tela uma screenshot da última coisa que você fez enquanto estava usando ele.
E é exatamente isso que gera “incômodo” em tanta gente, a falsa impressão de que o app está ali, rodando em plano de fundo, consumindo CPU, ocupando a RAM e comendo a bateria (até porque, ao tocamos na janelinha, ele volta a funcionar bem rapidamente). Não está, acredite.
Engenheiros de software da Apple trabalharam por anos e continuam trabalhando para tornar todo esse sistema multitarefa algo extremamente complexo/avançado por debaixo dos panos, porém o mais simples possível para o usuário em si. Quem se encarrega de gerenciar todo esse uso de CPU/RAM é o próprio iOS, de maneira extremamente inteligente e que é possivelmente um dos fatores de maior diferenciação dele frente ao Android.
Como as “janelinhas” continuam ali na pilha da multitarefa e não há absolutamente nenhuma indicação visual quanto ao que ainda está rodando e o que não está, muitas pessoas preferem simplesmente fechar tudo na marra para se “sentirem tranquilas” de que nada está aberto desnecessariamente. O problema é que reabrir um app do zero “custa” muito(!) mais ao aparelho do simplesmente “descongelá-lo” da multitarefa. Não só isso, como demora mais também.
A própria Apple explica isso, neste artigo de suporte:
Os apps usados recentemente são exibidos ao clicar duas vezes no botão de Início. Os apps não estão abertos, mas no modo de espera para ajudar você a navegar e fazer várias coisas ao mesmo tempo. Só force o encerramento de um app quando ele não estiver respondendo.
A última frase na citação acima já explica o porquê de essa função existir. Há, sim, determinados momentos em que é necessário forçar o encerramento de um app:
- Se ele estiver totalmente travado;
- Se algum recurso dentro dele tiver parado de funcionar;
- Se o app insistir em ficar acompanhando a sua localização em plano de fundo.
Este último ponto, por sinal, é algo em que a Apple está trabalhando no iOS 11. Hoje em dia, indo em Ajustes » Privacidade » Serviços de Localização, você pode configurar, app a app, qual deles terá acesso à sua localização geográfica. A maioria oferece duas opções: “Nunca” ou “Durante Uso do Aplicativo” (que é o ideal). Outros, contudo, só oferecem “Nunca” ou “Sempre” (caso do Waze, por exemplo).
Isso, sim, é algo que pode consumir mais bateria de forma desnecessária. Felizmente, a partir do iOS 11 todos os apps obrigatoriamente terão que oferecer a opção “Durante Uso do Aplicativo”. Não só isso, mas o sistema mostrará numa barra azul superior quando um determinado app estiver usando a localização em plano de fundo.
Todo esse complexo sistema desenvolvido pela Apple é, também, o que faz usuários de Android bradarem por aí, de forma ignorante, que “a multitarefa do iOS não é real”. Ela não só é real, como está anos-luz à frente da multitarefa “burra” que simplesmente deixa tudo rodando em plano de fundo e, justamente, obriga o usuário a ele mesmo ficar fazendo todo esse gerenciamento dos processos ativos no seu aparelho. Não é à toa que o iPhone, com seus 2-3GB de RAM (ou mesmo os modelos antigos, com menos RAM ainda), roda e recupera apps da memória melhor e mais rápido que qualquer Android de última geração com o dobro ou mais de RAM.
Eu sei, meus amigos, largar mão dessa mania não será uma tarefa nada fácil. O efeito placebo está aí para dificultar ainda mais nisso, já que muita gente jura de pés juntos que o sistema realmente fica mais leve/rápido depois que ela sai fechando todos os apps manualmente.
Os fatos estão aí, confirmados pelo próprio chefão do iOS na Apple. Se você quer que o seu iPhone/iPad rode bem e quer economizar bateria na medida do possível, esqueça essa ideia de ficar fechando seus apps; você provavelmente tem coisas mais importantes com que se preocupar. E ainda ganhará alguns preciosos segundos do seu dia com isso, que você pode usar hoje para compartilhar esta preciosa dica com parentes/amigos. 😉