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Opinião de leitor: o grande legado da era Jobs

Steve Jobs mais novo com Macintoshes (Macs)

por Agnaldo S. Martins, do depto. de Oceanografia e Ecologia da UFES

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Passados dez dias da partida de Steve Jobs, entre muitas homenagens e elogios à sua genialidade, não pude deixar de notar algumas observações mais ácidas sobre seu “senso de oportunidade”, por assim dizer, de pegar coisas que já estavam por aí — como o mouse, a interface gráfica, a tela sensível ao toque, os tablets, entre outros — e conseguir dar uma roupagem nova os tornando tão bonitos e funcionais que pareciam que ele próprio tinha criado. Além disso, Jobs foi nomeado por aí também como o maior lider das plataformas fechadas e sistemas proprietários.

Steve Jobs mais novo com Macintoshes (Macs)

Esse meio-elogios — ou meia-críticas, dependendo do ponto de vista de quem as lê — escondem, a meu ver, o grande legado da era Jobs: ele nunca foi imitado à altura e fez toda a diferença para a Apple ser o que é, a partir do seu modelo de integração vertical hardware-software.

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A Apple nunca foi uma empresa de software; ela é uma empresa de hardware, como HP, Dell, Sony etc. O software, para ela, é um meio de tornar a experiência de uso de seus equipamentos melhores, e não um fim — como é para os linuxistas e para Microsoft, por exemplo.

A Apple é a única empresa e a única iniciativa do mundo da computação pessoal que optou por desenvolver uma plataforma integrada de hardware e software. Pessoalmente, acho isso mais lógico. Evolutivamente, os organismos foram desenvolvendo sistemas nervosos mais sofisticados (software), ao mesmo tempo que o resto que dava sustentação (hardware). Acho meio sem sentido desenvolver uma “mente” sem saber ao certo em qual “corpo” ela vai funcionar. É meio coisa de Frankenstein.

Considerando esse modo de trabalhar que a Apple adotou, acho até brincadeira criticá-los por fechar sua plataforma. Desenvolver hardware não é a mesma coisa que software em termos de custos, tanto de desenvolvimento quanto de produção e distribuição (estes dois últimos virtualmente nulos, no caso de software). Ou seja, no mundo capitalista de hoje — que é 100% do mundo, incluindo a China comunista —, isso só se sustenta se for um produto comercial. Não dá para fazer hardware para distribuir ou licenciar livremente para todos, sob perda de perder exclusividade e margens de lucros — regras básicas do mercado.

Vejamos, você desenvolveu um hardware excelente e um software que trabalha perfeitamente nesse hardware. Isso custou milhões. Qual a vantagem de abrir a plataforma para os outros usarem por aí? Denegrir a imagem da empresa? Porque certamente a coisa não vai funcionar bem e da mesma forma em outros “corpos” — vide Hackintoshes da vida…

Então acho que, no caso do modelo adotado pela Apple (que é único), não vejo como ter outra postura como essa de ter o controle total de tudo, pois nesse caso o software é mais uma peça que faz funcionar bem seu hardware.

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Não vejo razão para todo esse #mimimi que a Apple é do mau por fechar tudo e cobrar horrores, e por aí vai. A Apple é apenas mais uma empresa de hardware no mercado. Seus computadores e dispositivos móveis compreendem 5% do planeta. A adoção do seu sistema operacional é de livre escolha (ao contrario do Windows, que vem pré-instalado em 95% dos computadores à venda) — e não é uma escolha trivial, porque são equipamentos bem caros. Se ela ficou tão rica, isso só é fruto do sucesso desse modelo de integração hardware-software no mercado, o qual garante experiências superiores e que levam consumidores a pagar um sobrepreço pelo óbvio do “just works”.

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Nesse contexto não vejo como o Linux — que seria uma boa alternativa de plataforma ao Mac — prosperar a médio prazo e sair dos seus 1% de adoção atuais (desde que acompanho essa estatistica não sai disso, apesar da evolução de plataformas amigáveis), porque ele sofre do mesmo mau do Windows. Por mais que se tornem amigáveis, eles não são feitos para um hardware específico e vice-versa, com um grande impacto na experiência do usuário. Nesse caso, como explicar o aparente sucesso do Android como plataforma móvel? Bem, acho que o mesmo motivo do sucesso do Windows, isto é, preços mais acessíveis.

Já repararam que ninguem compra Linux, Mac OS X, Windows, iOS, Android? As pessoas vão a uma loja comprar um Apple, Dell, Nokia, Samsung, etc. e 99% delas não têm conhecimento mínimo para reinstalar um novo sistema operacional, aliás, posso apostar que a maioria nem sabe o que é isso. Resultado: eles usam o que vem com ele. Ou seja, o nome do jogo não é iOS vs. Android vs. Windows Phone ou Linux vs. Mac OS X vs. Windows, e sim Apple vs. Lenovo vs. Samsung vs. Sony… Parece que só uma empresa entendeu bem isso e por acaso é a companhia de maior valor de mercado do planeta.

O mundo da computação seria mais feliz e evoluído se, desde sempre, outras empresas além da Apple tivessem adotado um modelo integrado. Isso é possivel. Veja a HP, que desenvolveu o webOS com base no sistema da Palm, que dizem que é muito melhor que Android e iOS em alguns aspectos — mas, infelizmente, não souberam levar adiante. Hoje a Apple está sozinha nesse modelo, o que é muito triste, pois ficamos sem opções reais. O que temos são alternativas “desintegradas” — as quais, a meu ver, são sem pé nem cabeça e comprometem muito a experiência de uso.

A empresa de hardware é preguiçosa e não desenvolve software para rodar nos equipamentos que cria. Aí aparece um esperto chamado Bill ou Larry e diz que tem o sistema perfeito, e a empresa compra! Estou falando de IBM e Microsoft nos anos 1980, e Samsung e Google nos dias de hoje.

Enfim, por que a turma de uma distro Linux poderosa não se une com uma HP ou uma Dell da vida e criam um computador integrado ao nível do Mac? Talvez porque isso dê muito trabalho. Exije anos de dedicação, controle meticuloso de cada detalhe da experiência do usuário, ficar mais tempo longe da família, etc. Coisas que em certo “Steve” se dispôs a fazer para deixar a sua marquinha no universo. Mais fácil para muitos foi pegar o Windows pronto e pagar uns dólares. Eis, a meu ver, o que tem mantido a computação pessoal nas trevas com uma única opção viável de sistema operacional por décadas.

Eis, portanto, o grande legado da era Jobs. Computação integrada: simples e óbvio. Tentaram imitar todos os hardwares e vários softwares, mas não perceberam que o segredo era a união das duas coisas. Só nos resta esperar que outros ousem trilhar seu caminho no futuro, para o bem de uma computação pessoal mais diversificada e competitiva.

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