As notícias (e rumores) sobre o evento de amanhã são grandes [1, 2]. A principal delas envolve o lançamento de um software para a criação/publicação de livros-texto — Philip Elmer-Dewitt (do Fortune Tech) acha, porém, que isso tudo foi longe demais e que as expectativas precisam ser reduzidas.
Antes de fazer suas apostas sobre o que será revelado amanhã, vale relembrar alguns pontos interessantes do passado de Steve Jobs (e da Apple) e sua relação com o mercado educacional.
No jantar de comemoração dos 56 anos de Jobs, o assunto “livros-texto” veio à mesa e o ex-CEO da Maçã conversou bastante com Rupert Murdoch (magnata da News Corp.) sobre o assunto. Resumindo a longa história: o cofundador da Apple achava que tecnologia por si só não transformaria o mercado educacional, mas concordava com Murdoch que livros-texto (de papel) seriam bastante impactados por materiais digitais.
Esse era, inclusive, um mercado que Jobs queria transformar — de acordo com ele, um mercado de US$8 bilhões, pronto para ser engolido. Além disso, o iPad resolveria o problema do peso dos livros, que são carregados de lá pra cá em mochilas — já que algumas escolas, por questão de segurança, não contam com armários.
A ideia inicial era contratar bons escritores para criar as versões digitais dos livros-texto, tornando-os um “recurso” do iPad. “O processo pelo qual os estados certificam os livros escolares é corrupto. Mas se pudermos fazer livros didáticos gratuitos e eles virem com o iPad, então eles não precisam ser certificados. […] Isso fará com que eles economizem dinheiro”, afirmou Jobs.
Em uma entrevista para a Wired (em 1996), o ex-CEO da Apple explanou seu posicionamento: antes, ele achava que a tecnologia poderia mudar esse mercado. “Eu provavelmente doei mais computadores para escolas do que qualquer um neste planeta. Mas o problema não era tecnológico, e sim político. O problema são os sindicatos nas escolas. O problema é a burocracia.”
Para Jobs, o negócio escolar deveria seguir o modelo de startups do Vale do Silício.
Imagine se os pais de crianças tivessem uma bolsa de US$4.400/ano para ser usada em escolas. Pessoas terminariam a universidade e falariam: “Vamos abrir uma escola.” O MBA de Stanford poderia ter um programa ensinado como gerenciar uma escola. A partir dele, pessoas fariam contatos e começariam a abrir escolas. E aí você teria esses jovens, pessoas idealistas, abrindo negócios escolares, trabalhando por centavos.
De acordo com Jobs, isso mudaria completamente a estrutura do ensino, que até hoje continua basicamente igual à de décadas atrás — com conteúdo que, em muitas vezes, não acrescenta muita coisa. Basicamente, na ideia dele, os pais poderiam escolher junto ao filho os programas e livros escolares, já pensando no futuro. Isso, sim, mudaria o negócio escolar como um todo, não computadores, CD-ROMs (naquela época), internet, etc. — tudo isso tem seu valor, mas não podemos esperar que esse tipo de coisa transforme essa indústria.
Trata-se de uma indústria totalmente engessada, cheia de regras que parecem feitas de propósito, para manter tudo como está. Mas a verdade é que, mesmo com todos esses problemas, a Apple pode construir um negócio na educação — resta saber como isso será feito. Será que veremos um “GarageBand para ebooks”? Ele será destinado a editoras, mantendo a atual estrutura do negócio, ou deixaria elas totalmente de lado, dando uma ferramenta para que autores trabalhem seus conteúdos e os publique diretamente em um canal de distribuição? Fazendo uma analogia: será que a Apple vai fazer com a indústria educacional o que fez com a da música, ou o que fez com a de aplicativos?
Saberemos amanhã, às 13 horas, aqui no MacMagazine. 😉
[via Wired.com]