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Terá o iPad desencadeado inflação no mercado de ebooks?

iPads em pé - iBooks

Por quase dez anos, a Apple foi bem rígida em suas vendas de músicas: uma canção por US$1 e pronto. Apesar de as gravadoras chegarem ao ponto de quase anunciar o fim da civilização, apenas recentemente ocorreu uma mudança nesse modelo, e agora as faixas podem custar US$0,70, US$1 ou US$1,30. Mas, note bem, quase _dez anos_ depois! Os EUA têm inflação de aproximadamente 1,45% ao ano, segundo o Wolfram Alpha.

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A Amazon.com tentou fazer algo parecido com ebooks à venda via Kindle e foi tão bem-sucedida que a “resistência” durou apenas um fim de semana. Deixe-me explicar: com o anúncio da iBookstore como parte integrante do iPad, a Apple declarou ter uma parceria de representação (agency model) com editoras, na qual os livros poderiam ser vendidos por quaisquer valores (dentro de um limite máximo de US$15) e a Apple ficaria com uma comissão de 30%, como ocorre com apps. A Amazon, em vez disso, adota um sistema de revenda (wholesale) em que o preço máximo por ebook é US$10.

Uma das “seis grandes” no mercado de livros, a Macmillan, decidiu que queria o mesmo modelo de representação na Kindle Store, apesar de a Amazon não concordar. A editora então deu uma opção: ou aumenta os preços, ou então impõe um atraso nos lançamentos (digamos, dois meses em relação ao livro de papel). A gigante de vendas decidiu dar uma de Apple e não quis ceder, mas logo tomou uma atitude drástica: tirou todos os livros da Macmillan de sua loja no ereader, e indisponibilizou os livros físicos no portal de ecommerce, removendo o botão Buy de suas páginas.

A repercussão foi intensa, na mídia. Contudo, parece que a Amazon acabou cedendo um pouco rápido demais, deixando claro em uma nota oficial que:

  1. Não concorda com a postura da Macmillan;
  2. Só está aceitando estas condições por causa do monopólio da editora sobre muitos títulos;
  3. A decisão final ficará com os consumidores, que dirão se pagar entre US$12 e US$15 por um ebook é razoável;
  4. E que não vê outras editoras seguindo o exemplo da Macmillan, mas sim que elas vão usar o preço como arma para conquistar leitores (hahaha! E eu nasci ontem).

O novo sistema de preços da Macmillan entra em efeito no começo de março, na Kindle Store, e parece ter sido apenas o começo de um processo inflacionário catalizado pelo sistema de negócios que a Apple adotou para a iBookstore.

Sabe o que eu acho disso? Respeito e apoio os autores e editoras: eles precisam viver de alguma coisa, então cobrar por suas obras é justo. Contudo, não estamos falando de um livro que precisa ser transportado por estradas, cruzar oceanos, gastar tinta, derrubar árvores, pagar aluguel em pontos de venda espalhados pelo mundo e contar com centenas de funcionários em livrarias dispostos a atender clientes que chegam e leem o livro inteiro numa sentada só, de graça.

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É um ebook, pelamordeDeus! É uma informação que vai flutuar pelo ar e se multiplicar infinitamente a custo irrisório! Não precisa de tinta, não precisa de papel, não precisa de gasolina, não precisa de vendedores! Quanto é o custo mensal para deixar um livro de 500 páginas num servidor e manter uma página de vendas? Gastos com atendimento online ao consumidor são altos assim? E quanto custa pelo mesmo livro num armazém? Quanto de “prejuízo” as editoras têm que suprir simplesmente porque qualquer um pode emprestar e/ou revender um livro físico usado? (O que digo aqui vale para a relação CDs/músicas vendidas por download.)

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O sistema de DRM da Apple funcionou por quase uma década para músicas e continua em efeito para vídeos — não vejo por que algo do tipo seria tão ofensivo para livros, se estes fossem vendidos a um preço razoável. Quando os preços de algumas músicas aumentaram, o DRM acabou. Mas US$15? Esse é um preço razoável para um audiobook (afinal de contas, uma pessoa de talento leu em voz alta o livro inteiro, em um estúdio, com todo um processo à parte), mas não para algo que tecnicamente é o subproduto de uma etapa do processo de editoração dos livros de papel. Pior: com DRM até a tampa.

Fico triste por saber que, no mercado de livros, a Apple pode ter iniciado uma caminhada pra trás e que a Amazon tenha cedido tão facilmente. 🙁

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Um adendo: cobrar US$15 por um livro no Kindle é um assalto (nem todas as figuras do mundo salvariam, expostas em e-ink), mas pode ser o preço certo no iPad, se as editoras incluírem conteúdo que faça jus aos US$5 extras e/ou não quiserem impor DRM goela abaixo dos leitores. Pense “Harry Potter”: sons, ilustrações que se movem, livros infantis “vivos”, vídeos, comentários do autor, gráficos animados, links úteis, um recurso de text-to-speech… E mais: esse preço, esticando muito a boa vontade, pode ser válido para lançamentos, sendo reduzido depois de dois/três meses — todos sabemos que a pressa é inimiga do orçamento.

[via ZDNet.com]

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