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Entenda melhor por que a Apple migrou da arquitetura PowerPC para Intel — e por que o Leopard é o último Mac OS X Universal

Insatisfação e dúvidas sobre os motivos que levaram a Apple a migrar de PowerPC para Intel há quatro anos voltaram a dar o que falar nos últimos meses, desde que vimos pela primeira vez um build do Mac OS X 10.6 Snow Leopard incompatível com Macs PowerPC. E no início deste mês, com o anúncio oficial de que o novo sistema da Maçã será oferecido apenas para seus computadores Intel, a discussão ganhou ainda mais força e, com uma ajuda de um funcionário da IBM envolvido nas suas negociações da Apple no passado, a CNET News levantou algumas hipóteses sobre essa transição que nunca foram trazidas à tona.

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Transição para Intel na WWDC '05
Transição para Intel, anunciada na WWDC '05

O funcionário, que não quis se identificar na entrevista, expôs três propósitos fundamentais que fizeram a firma de Cupertino ir para o lado da Intel, porém nenhum deles é confirmado por qualquer das partes. O primeiro é o mais óbvio e foi até tema de comentários de Steve Jobs no passado: sua empresa estava preocupada com o estado dos chips para notebooks que a IBM produzia.

É estranho pensar que essa tenha sido a única coisa que a fez mover desenvolvedores do mundo todo a portar seus aplicativos para uma arquitetura de hardware que tem gosto de qualquer PC convencional. Não estou dizendo que esse motivo é uma besteira dispensável: o envelope térmico dos PowerBooks G4 realmente deixava a desejar e fez a Apple chegar ao ponto de afirmar oficialmente que não era possível enfiar um processador G5 (o último PowerPC a embarcar nos Macs desktop) em um portátil, mas, se voltarmos a 2003, quando a Apple assumiu um compromisso com a IBM de fazer esses mesmos processadores chegarem a 3GHz de frequência, o que fica claro é que talvez ela não tenha buscado alternativas para honrar esse compromisso enquanto ainda podia.

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Para deixar a coisa mais clara, nunca um G5 chegou a 3GHz para desktops — talvez, se tivesse conseguido, poderia ser utilizado nos PowerBooks em uma frequência menor —, devido a limitações técnicas da própria IBM e da Apple. E, levando em conta que isso foi prometido em 2003, dá para imaginar que ela ficou investindo em tentativas de chegar a esse objetivo por mais tempo do que imaginava enquanto a Intel começou a trabalhar em roadmaps de processadores com múltiplos núcleos. Imagino que, em um período de poucos meses a um ano, ela caiu em seu próprio “Mito dos Megahertz” e não buscou um design melhor para processadores PowerPC. Quando viu a possibilidade de mudar de arquitetura, a Intel já estava na metade do caminho a ser seguido.

Ligado nesse assunto, está o segundo propósito, que trata de uma relação do investimento feito pelas duas empresas até 2004 com o retorno obtido em termos de lucros e market share. Simplificando: Apple e IBM gastavam mais em pesquisa e desenvolvimento (P&D) do que teoricamente era preciso para vender o que vendiam. Pelo trabalho pesado e caro da IBM, a Apple também pagava alto, e o design dos processadores que saíam dessa parceria, comparado com os da Intel para o futuro, era bastante inferior. Um fato curioso abordado na entrevista é que a IBM, quando viu que o PowerPC não estava mais sendo o que a Apple queria, tentou oferecer a arquitetura Cell para a ela — de mesmo design, usada em alguns dos seus servidores e no PlayStation 3 —, que tinha potencial para ser mais competitiva, mas nesse ponto já era tarde para repensar modelos de negócio em relação ao avanço da Intel.

A terceira foi colocada em apenas uma linha no artigo da CNET, mas é um tanto curiosa: a Apple, em uma iniciativa de tornar os Macs mais compatíveis com diversos ambientes empresariais, cobiçava a possibilidade de produzir Macs capazes de rodar Windows. Aqui entra uma questão corporativa curiosa: a Apple é uma empresa de hardware, e não faria Steve Jobs enfiar a mão no fogo falando que seus computadores são 100% compatíveis com qualquer empresa, já que falar com esse tipo de cliente é bem mais complexo do que falar com um designer ou um usuário doméstico. Aqui, alternativas em software fazem toda a diferença, e seja com uma solução própria integrada ao Mac OS X ou com softwares de virtualização, a Apple também queria sanar essa deficiência para alguns clientes, e talvez tenha encontrado a solução quando considerou migrar para Intel.

WWDC 2005 - It's true!

Quatro anos se passaram e milhões de pessoas entraram para o Mac OS X, por que surpreender todos e largar o PowerPC de vez exatamente agora?

Macs Intel

Bom, a intenção da Apple com o Snow Leopard é “tornar o Leopard melhor”. Entre os refinamentos e tecnologias propostos por ela para se chegar a esse objetivo, podemos imaginar que há muita coisa pensada exclusivamente em favorecer a base de computadores formada nos últimos três anos e meio. Os 6GB de espaço em HD eliminados em relação ao sistema atual não são apenas compressão de arquivos: incluem todos os binários e executáveis necessários para que tudo rode com compatibilidade para PowerPC, o que deve ter ajudado a tirar muito peso do sistema operacional. Além disso, multi-core e computação paralela também são recursos que muitas das máquinas de legado não suportam simplesmente por não terem sido projetadas para isso na época, dentro de um sistema totalmente 64 bits.

Novidades do Mac OS X Snow Leopard
Tudo que a Apple propõe para o Snow Leopard não só torna o Leopard melhor, mas prepara o Mac OS X para o futuro

O que a Apple está fazendo com o Snow Leopard é mais que solidificar o Leopard, é determinar uma fundação sólida para o futuro do Mac OS X. Ele está sendo planejado priorizando recursos que apenas Macs mais modernos têm condições de explorar, além de a transição de PowerPC para Intel há quatro anos ter acabado coincidindo com a grande adoção dos computadores que no futuro seriam prioridade para a Maçã. O ruim desse caso é pensar que muitos Macs com processadores G5 são capazes de fazer parte dele, mas não o farão simplesmente por terem marcado toda a mudança que presenciamos nos últimos anos. Infelizmente, é uma pena que ela não tenha chance de mudar isso hoje.

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