Os Estados Unidos sempre viveram um grande problema com sua política fiscal. Sim, meus caros, em alguns aspectos eles são mais complicados até que o Brasil! Uma das grandes críticas é o valor do Imposto de Renda pago pelas empresas, que gira em torno de 35%. Sempre acreditaram que, se reduzissem essa alíquota para 25%, as empresas parariam de fazer seus jogos contábeis para pagar menos impostos. Acho difícil, pois ela sempre buscam brechas nessas leis — e agora é a vez da Apple.
No meu texto anterior, tinha dito que havia ficado super-empolgado com as novas regras do programa de pagamento de dividendos da Apple, e acredito que todos os investidores também ficaram. Mas o programa financeiro da Apple tem um outro lado também, que é o de recompra de ações — e foi aí que ela deu a sua grande cartada.
Sabemos que a Apple tem agora mais de US$145 bilhões em caixa e equivalentes, porém dois terços dessa quantia está em territórios fora dos EUA. Ela poderia muito bem trazer esse dinheiro de volta para o país e efetuar a recompra de suas ações, mas como disse, as leis americanas dizem que, se você “repatriar” um dinheiro, deve-se incidir um imposto de 35% sobre a quantia total.
Um processo de recompra de ações obriga a empresa a pagar uma quantia pré-acordada com os acionistas, e esse valor hoje está em cerca de US$410. A estratégia da Apple é pegar um empréstimo com uma certa taxa de juros, de forma que seja mais vantajoso pagar o montante do juros do que o imposto sobre o repatriamento.
Vamos considerar uma taxa de 3% ao ano (o que certamente é bem mais do que será pago): ela conseguirá pagar todas as ações que ela quer e isto acarretará um juros de US$12,30 por ação, uma diferença de dez centavos de dólar para o valor do dividendo que ela paga atualmente. A Apple deixa de pagar US$12,20 de dividendo por ação, o qual não pode ser deduzido dos impostos, e passa a pagar US$12,30 para uma instituição financeira qualquer, com o direito de abater esse valor do seu montante de imposto a pagar.
Então, provavelmente, a euforia inicial com o aumento de 5% do valor da ação é injustificável e mostra como os investidores foram ingênuos. Ficou bem claro que ela está mais preocupada com o jogo fiscal para pagar menos impostos do que com seus investidores. Claro que todos sairão ganhando, investidores com o dinheiro que realmente valem as ações e a Apple com uma diminuição do seus impostos — e vale ressaltar que tudo isso dentro da lei, mostrando que é possível sim usar de artifícios legais para se beneficiar sem precisar sonegar impostos, prática tão comum em alguns países.
[via MacNN]