por Ronaldo Faria Lima, diretor de tecnologia da Saibre
Um argumento de marketing muito comum contra o iOS é o fato de ele não ser multitarefa, ou seja, não permitir ao usuário executar mais de uma tarefa ao mesmo tempo. Este argumento normalmente é utilizado em sistemas concorrentes, como o Android ou o Windows 8. Todavia, o argumento é verdadeiro?
O fato é que esse argumento é quase verdadeiro e, portanto, quase falso. Sim, o iOS suspende as aplicações que são movidas para segundo plano, porém dá a elas a chance de salvar seu estado ou executar alguma tarefa de “house keeping” antes de serem efetivamente suspendidas. Mas há aplicações que permanecem em execução, como por exemplo as que reproduzem mídias ou que fazem uso do sistema do GPS, que têm permissão do sistema operacional para permanecerem ativas, mesmo em segundo plano.
Se o iOS não fosse capaz de multitarefa, as aplicações não seriam capazes de execução em segundo plano. Mas não é isto o que acontece na prática. Veja por exemplo o Endomondo [completa, gratuita], um app esportivo. Ele continua computando o tempo do exercício bem como a distância percorrida, mesmo quando está em segundo plano. A mágica está no fato de ser uma aplicação que usa extensivamente o GPS para computar o percurso de um atleta.
Também se não fosse um sistema multitarefa, o iOS seria incapaz de executar músicas em segundo plano ou notificar o usuário enquanto há uma aplicação em primeiro plano, mesmo notificações geradas por outros apps. O que muda, de fato é a forma como o sistema foi projetado para interagir com o usuário.
Provavelmente você é usuário de algum sistema desktop, não importando que seja OS X, Windows ou Linux. Hoje é virtualmente impossível fazer alguma coisa neste mundo sem um computador: internet banking, pagamento de impostos, multas, dê o nome — sempre há um computador envolvido. Bem, enquanto você trabalha ao seu computador, utiliza um conjunto de aplicações. No entanto, você nunca usa duas distintas ao mesmo tempo, mesmo porque o seu computador só tem um teclado e um mouse.
O ponto da minha argumentação é este: apesar de ser capaz de executar vários programas simultaneamente, você é incapaz de usá-los todos ao mesmo tempo; o seu foco sempre estará no programa em primeiro plano. Se fosse diferente, seu computador teria um teclado e um mouse para cada app que você usa. Como só temos duas mãos, não dá para digitar coisas diferentes em teclados diferentes. E aqui está a principal característica do iOS: mantém o foco do usuário na aplicação em primeiro plano.
Por uma questão de economia, os apps em segundo plano são suspensos e seus recursos temporariamente liberados para uso da aplicação em primeiro plano. No entanto, diversos serviços do sistema operacional permanecem sempre em execução, concorrentemente, ao contrário do que reza a argumentação que nega a multitarefa no iOS. O projeto deste impõe restrições cujo objetivo é a economia de recursos. O iOS é um sistema operacional projetado para dispositivos móveis, os quais têm limitações de recursos como energia, processamento e armazenamento. Se estas restrições não fossem impostas, o seu dispositivo móvel teria de ser recarregado várias vezes ao dia devido ao excesso de drenagem da bateria.
De vez em quando eu ouço usuários de sistemas não-Apple reclamando do tempo de vida curto de suas baterias, uma troca que acaba ocorrendo pela não suspensão de aplicações que estão em segundo plano. Afinal, o processador precisa continuar trocando de contexto assim como a memória precisa ser alimentada continuamente para manter os dados temporários de vários programas em execução ao mesmo tempo.
Concluindo, espero que esta exposição tenha lançado um pouco mais de luz sobre a argumentação que considero inválida sobre a multitarefa do iOS. Sim, ele é multitarefa, mas há restrições impostas com o único objetivo de maximizar a experiência do usuário.
