Dentre as quatro novidades apresentadas pela Apple no seu último evento especial, só a plataforma de publicações Apple News+ teve lançamento imediato nos Estados Unidos — e a resposta dos consumidores parece ser razoavelmente positiva, até o momento.
De acordo com dados publicados pelo New York Times, mais de 200 mil usuários assinaram o serviço — que custa US$10 mensais e tem um mês de testes gratuito — em suas primeiras 48h de disponibilidade. Os números vêm de fontes próximas do assunto não-divulgadas pelo jornal.
Apenas a efeito de comparação, o moribundo serviço da Texture — adquirido pela Maçã no ano passado e usado como base para construção do Apple News+ — nunca teve 200 mil assinantes, nem no seu momento de maior popularidade. Claro, a comparação é injusta, já que estamos falando de um serviço vindo de uma startup basicamente desconhecida contra uma plataforma amplamente divulgada por uma das maiores empresas do mundo; ainda assim, os números indicam um caminho interessante para o serviço de Cupertino neste início de vida.
Algumas editoras também estão animadas com esses primeiros passos do Apple News+: Pamela Wasserstein, CEO1Chief executive officer, ou diretor executivo. da New York Media (que publica revistas como New York, The Cut e Vulture), afirmou que a plataforma ajudaria as publicações a “alcançarem uma nova audiência” num ambiente que “parece certo”.
A opinião da editora, entretanto, parece ter algumas indicações contrárias, como veremos a seguir.
Ameaça para revistas?
Em um artigo escrito para o Monday Note, o analista Frederic Filloux alertou as editoras para um possível corte significativo de receita por leitor caso o Apple News+ se consolide como uma opção viável e popular para o mercado americano.
O cálculo de Filloux é simples: atualmente, o mercado de revistas gera cerca de US$27 bilhões por ano — o que, por si só, representa uma queda de cerca de 40% em relação a uma década atrás. Esses US$27 bilhões se convertem em cerca de US$120/ano por leitor, o que representa o mesmo que o Apple News+ gera por usuário, já que o serviço custa US$10 por mês.
O problema é que a Apple fica com metade dessa receita — o que significa que, caso sua plataforma se torne uma via de acesso “padrão” para revistas, as editoras perderão metade da sua receita nos próximos anos.
A situação, claro, não é tão simples e varia de acordo com as revistas: o analista calcula, por exemplo, que a New Yorker perderá 88% de sua receita caso o Apple News+ se torne extremamente popular; já a WIRED, com uma inserção muito mais intensa de publicidade, terá uma perda de apenas 12% — isso estimando que cada leitor passe cerca de 15% do seu tempo na plataforma na WIRED, e 20% na New Yorker.
Algumas publicações já parecem ter percebido que a plataforma pode representar um problema. A ausência do New York Times e do Washington Post no Apple News+, por exemplo, já foi amplamente notada, e uma reportagem publicada recentemente pela Vanity Fair afirma que não foi por falta de tentativa: Eddy Cue, vice-presidente sênior de software e serviços para internet da Apple, passou boa parte dos últimos meses nos escritórios dos dois jornais, mas não obteve sucesso — especialmente porque a Apple recusou-se a diminuir sua taxa de 50% para as duas editoras.
Voltando a Filloux, o analista diz que, no fim das contas, a culpa não é da Apple pela possível derrocada no mercado de revistas — de fato, o Apple News+ pode ser um último respiro para um segmento cada vez mais no vermelho. Ainda assim, ao menos nos seus cálculos, não será a plataforma da Maçã que devolverá às velhas editoras os áureos tempos.
Isso, claro, nós só poderemos ver com o tempo.
via MacRumors, Cult of Mac
Notas de rodapé
- 1Chief executive officer, ou diretor executivo.