Não seria um exagero dizer que a Apple chegou — ou melhor, chegará — atrasada à corrida dos alto-falantes inteligentes. Enquanto o Amazon Echo já toma de assalto os lares dos Estados Unidos e o Google Home torna-se até mesmo um elemento da cultura pop, a Maçã ainda corre para colocar o seu competidor nas prateleiras sem que ele atrase mais uma vez. O curioso é notar que, de acordo com esta reportagem da Bloomberg, os planos de Cupertino em relação ao dispositivo poderiam ter visto a luz do dia muito antes.
Segundo a matéria, os engenheiros de som da Apple começaram a trabalhar em protótipos para o HomePod em 2014, concentrando-se neles por quase dois anos até que a Amazon colocou o primeiro Echo no mercado. Os projetistas, então, compraram unidades do dispositivo para dissecá-lo e analisar seu funcionamento (enquanto, claro, acusavam uns aos outros de brincadeira que alguém tinha vazado os planos da Maçã), determinando rapidamente que a qualidade de som do concorrente não representava nem de longe uma ameaça.
O caminho que se trilhou a seguir, entretanto, não foi dos mais tranquilos. A Apple cancelou e retomou o projeto “várias vezes”, de acordo com a reportagem, e o HomePod teve diversas formas até assumir o atual formato de novelo de algodão — aparentemente, em um ponto da sua história, ele media quase 1m(!) de altura.
O maior ponto de fricção no desenvolvimento foi, segundo fontes, uma suposta dificuldade dos engenheiros e executivos da Maçã para encontrar uma forma de encaixar o futuro dispositivo no ecossistema da empresa. Em um ponto, inclusive, foi considerado vender o alto-falante sob a marca Beats para não atrelá-lo à família de produtos da Apple; os planos mudaram, entretanto, quando eles encontraram o nome perfeito para colocar o HomePod como um legítimo produto Designed by Apple in California: a Siri.
Os testes do HomePod, então, duraram quase dois anos e envolveram câmaras de áudio e ambientes especificamente construídos para tal propósito e imitando cômodos reais, como um dormitório de faculdade, uma sala de estar e um apartamento aberto, no estilo estúdio. No ano passado, a Apple chegou a distribuir unidades de testes do aparelho a empregados não-ligados à sua área de áudio, para obter um retorno imparcial (ou o mais imparcial possível, ao menos).
Ainda assim, não dá para esquecer que o foco original dos engenheiros da Maçã era primeiramente construir um equipamento de áudio de primeira linha, relegando as funções inteligentes ao segundo plano. Essa ideia reflete-se no próprio marketing do HomePod, mas, por outro lado, significa que o produto da Apple terá várias limitações e não conseguirá fazer nem uma fração do que o Amazon Echo ou o Google Home são capazes — de fato, os recursos do alto-falante da Maçã limitam-se a algumas perguntas à (já limitada por natureza) Siri, controle de músicas, de alguns aplicativos no iPhone (como o iMessage) e dos objetos conectados ao HomeKit. De acordo com uma das fontes anônimas de dentro da Apple ouvidas pela Bloomberg, o HomePod “é uma enorme oportunidade perdida”.
Este veredito — e a impressão geral do público — só poderá ser confirmado, claro, quando o aparelho chegar às mãos dos ávidos consumidores. Quais são suas apostas?
via 9to5Mac