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Aprendendo com o passado, Apple toma a dianteira com os chips M1

Família de chips da Apple: M1, M1 Pro e M1 Max

A Apple surpreendeu, durante a WWDC20, ao anunciar a transição dos processadores de seus computadores para a arquitetura ARM. Ou seja, em vez dos chips da Intel (com arquitetura x86), os Macs passariam a contar com componentes produzidos pela própria empresa, a exemplo do que já acontecia com o iPhone e o iPad.

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A notícia causou um enorme furor, já que, pela primeira vez em muitos anos, uma gigante da tecnologia ousou desafiar as tradicionais fabricantes de processadores para computadores e um padrão de arquitetura praticamente unânime em desktops mundo afora.

Enfrentando muitos questionamentos e dúvidas a respeito dessa virada radical, a Apple lançou o chip M1 no Mac mini, no MacBook Air e no MacBook Pro de 13 polegadas, no fim de 2020, cumprindo o que havia prometido em termos de desempenho e eficiência energética.

Os computadores com Apple Silicon deram tão certo que até o CEO1Chief executive officer, ou diretor executivo. da Intel admitiu publicamente que os chips da Maçã são melhores, e demonstrou esperança de um dia voltar a trabalhar com a antiga parceira.

Passada a dúvida sobre a eficiência e a viabilidade de um chip próprio, a Apple deu um passo além no último dia 18 de outubro, ao lançar duas versões mais poderosas de seu primeiro processador próprio para computadores, o M1 Pro e o M1 Max, que vieram equipando os novos MacBooks Pro (de 14″ e 16″) da empresa.

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Com desempenho monstruoso, o componente mais poderoso atropela o chip Intel do MacBook Pro de 16″ anterior, além de ter poder gráfico que chegou a ser comparado ao do PlayStation 5.

PowerPC: a primeira transição

Antes da transição dos MacBooks para a nova arquitetura, uma das maiores preocupações tinha como pano de fundo o passado da empresa e as duas mudanças anteriores no “cérebro” dos computadores da Apple, que chegaram a traumatizar alguns usuários.

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Para Steven Sinofsky (ex-presidente do Windows), no entanto, foi justamente esse passado que possibilitou o momento confortável atual da Apple com os seus computadores. A Maçã aprendeu com os erros e, após longo período de estudos e experiência com chips próprios em seus dispositivos móveis, pôde colocar seu projeto ambicioso em prática.

Essa longa jornada da Maçã teve início nos anos 1990, quando os computadores da empresa eram equipados com chips fabricados pela Motorola e tinham a arquitetura conhecida como 68K. Com um acordo entre as duas empresas e a IBM, a Apple anunciou, então, a primeira grande mudança nos processadores de Macs, que passaram a usar o IBM PowerPC (G3, G4 e G5).

Chips PowerPC

Apesar de a mudança ter dado um novo fôlego à empresa em relação a computadores, já que a arquitetura anterior estava um tanto quanto defasada, o processo de transição foi tudo, menos calmo. Aplicativos como Photoshop levaram cerca de dois anos para serem lançados nativamente na plataforma PowerPC, o que fez com que, por muito tempo, usuários tivessem que enfrentar um desempenho sofrível com o sistema de emulação implementado.

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Além de todos esses contratempos em termos de emulação, o resultado foi apenas “morno” no quesito desempenho. Embora conseguisse se sobressair em relação à geração anterior de processadores, o PowerPC se dava mal especialmente em comparação ao x86, com a Intel investindo pesado em seus chips e cada vez mais se consolidando nesse mercado.

Foi em meio a toda essa calamidade que Steve Jobs retornou ao comando da empresa a qual fundou, trazendo já de cara importantes mudanças — como o sistema operacional NeXTSTEP, que serviu de base para a criação do bem-sucedido Mac OS X, sistema operacional que passaria a rodar nos computadores da marca.

Sai PowerPC, entra Intel

Como tudo é aprendizado, a Apple pôde se valer dessa primeira experiência anos à frente, com a segunda transição na arquitetura de seus processadores. Surpreendendo toda a bolha tecnológica, Jobs anunciou, em 2005, que os Macs passariam a usar processadores Intel, com arquitetura x86.

Transições da Apple

Para muitos, foi uma jogada de toalha da Maçã, que a partir de então passaria a utilizar o padrão já presente na maior parte dos computadores com Windows, dominantes no mercado.

Justamente por isso, a transição foi muito menos dolorosa para usuários, já que a base para o desenvolvimento dos programas era basicamente a mesma, o que fez com que títulos como Office e Photoshop fossem lançados nativamente bem mais rápido. A emulação PowerPC-x86 se deu através do Rosetta, e também foi, de longe, muito menos traumática.

Aquela pulga atrás da orelha…

Uma década depois, já estabelecida com sua fatia de usuários Mac no mercado (principalmente profissionais), a Apple percebeu que poderia, ela mesma, fabricar seus próprios chips para computadores. Isso graças ao bem-sucedido resultado obtido com os chips da linha “A”, que equipavam os iPhones/iPads e conseguiam se sair muito bem na disputa com a Qualcomm e seu Snapdragon.

Essa jornada da Maçã havia começado há muito tempo, quando a empresa passou a usar processadores com arquitetura ARM nos iPods. Na época ninguém se importou, mas a companhia continuou com seu projeto ambicioso e, obviamente, lançou o seu primeiro iPhone com a mesma arquitetura. O sucesso do iPhone, segundo Sinofsky, deu à empresa recursos para realizar o sonho de produzir o seu próprio chipset.

Com anos de estudo, os chips ARM, originalmente concebidos para dispositivos móveis, finalmente puderam equipar computadores. Eles vieram com a promessa de oferecer uma série de vantagens em relação ao x86, como eficiência energética e, principalmente, unificação da arquitetura do ecossistema da Apple, um dos grandes focos da Maçã para atrair e fidelizar consumidores.

Mais uma transição, agora com a Apple ditando as regras

Tim Cook apresenta o Apple Silicon

Com duas transições de arquitetura no currículo, a empresa conseguiu promover uma experiência ainda mais agradável que a obtida com a mudança do PowerPC para a Intel. Devido à alta performance e ao desempenho dos novos chips, foi possível rodar apps desenvolvidos para o x86 utilizando o Rosetta 2, com desempenho semelhante ou até superior ao dos Macs com chips Intel!

O chip M1 é basicamente o resultado de todo um trabalho feito em iPhones/iPads nos últimos anos aliado à correção de erros — tanto da primeira quanto da segunda transição. Porém, como no mundo da tecnologia quase nada é unanimidade, há quem subestime a linha de chipsets próprios da Maçã.

Um artigo do Seeking Alpha, por exemplo, opinou que a grande conquista da Apple com os chips próprios é eficiência energética, e não o desempenho. Na já mencionada thread, Sinofsky opinou indo de encontro ao artigo, explicando o porquê de o M1 ir bem além de um ou outro benefício. Ele é a grande bola da vez justamente por oferecer uma boa combinação de vários deles.

Quando você olha para o M1 Pro/Max hoje, é tentador pensar em termos de desempenho, mas desempenho por watt e gráficos integrados e memória integrada e processadores de aplicativos integrados é inovação em uma direção totalmente diferente. É só o começo.

O mesmo texto do Seeking Alpha também argumentou que o uso de grandes SoCs2System-on-a-chips., utilizados pela Apple em iPhones, iPads e Macs, deve ser visto como o ponto de fraqueza em relação aos chips SiP3System in package., que ocupam menos espaço, têm menos custo de fabricação e deveriam ser considerados os “novos SoCs” — segundo o texto.

Em outro artigo, o ex-executivo da Apple, Jean-Louis Gassée, contra-argumentou. Segundo ele, a produção de chips SiP na arquitetura x86 pela Intel é uma admissão da incapacidade da empresa de integrar todos os “órgãos” da CPU em um único SoC.

Como resultado, o desempenho do SiP sofre devido às suas velocidades de interconexão mais baixas, particularmente quando comparado a um SoC totalmente integrado. Por exemplo, a transferência de memória oferecida pelo M1 Pro e Max atinge 200GB/s e 400GB/s, velocidades que são inatingíveis em uma implementação de CPU SiP.

Gassée deixou claro que a Apple ainda tem muito o que mostrar, especialmente no próximo ano. Isso porque a nova geração da linha M, o chip “M2”, deverá completar a transição de dois anos anunciada pela empresa para seus computadores. Assim, os processadores — inicialmente subestimados — vão substituir os chips mais poderosos da Intel que equipam o Mac Pro, por exemplo.


Até quando a Apple conseguirá manter esse domínio na fabricação de chips ARM para computadores, ninguém sabe. O que se sabe é que, aprendendo com o passado, a empresa conseguiu realizar um sonho antigo e virar a grande bola da vez no mercado de fabricação de processadores — o que, obviamente, levará as concorrentes a se mexerem e a darem mais atenção à tecnologia se quiserem retomar a dianteira nesse setor.

Está muito legal de assistir a tudo isso.

Notas de rodapé

  • 1
    Chief executive officer, ou diretor executivo.
  • 2
    System-on-a-chips.
  • 3
    System in package.

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