O caso mais recente envolvendo a Apple e o FBI está dando água pela barba, mas uma nova reportagem publicada pela Forbes coloca em cheque muita coisa que tem acontecido nos últimos dias.
Como divulgamos, a agência de investigação americana apreendeu os iPhones (5 e 7 Plus) de Mohammed Saeed Al-Shamrani, atirador que matou três pessoas em Pensacola (na Flórida), em dezembro passado.
Refletindo um caso ocorrido em 2016, o FBI solicitou à Apple que desbloqueasse os iPhones para investigação — pedido negado veementemente pela empresa. A chapa esquentou tanto para o lado da Maçã que até o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, solicitou que a Maçã fornecesse acesso aos aparelhos, escalando ainda mais essa “briga de titãs”.
Independentemente de pedidos judiciais ou mesmo solicitações do alto escalão do executivo americano, a Forbes aponta (finjam surpresa) que o FBI consegue desbloquear esses aparelhos sem a ajuda da Apple. De fato, a agência americana já fez isso — e continua fazendo.
No fim do ano passado, investigadores do FBI foram encarregados de coletar provas de um crime de confiança no estado de Ohio, onde Baris Ali Koch teria ajudado seu irmão condenado a fugir dos EUA ao fornecer documentos falsificados e mentir para agentes federais.
Como parte da investigação, os agentes apreenderam o iPhone 11 Pro Max do suspeito que, segundo o advogado de defesa, estava bloqueado e protegido por senha. Para completar, Koch não forneceu a senha e nem foi forçado a desbloqueá-lo pelo Face ID — e mesmo assim o FBI conseguiu acessá-lo.
“Curiosamente”, o mandado de busca revela que a agência usou um drive USB contendo “análise forense derivada da GrayKey” nas investigações. Para quem não se lembra, a GrayKey é uma ferramenta criada pela startup Grayshift capaz de burlar os protocolos de segurança da Apple (logo, do iPhone) para extrair dados do dispositivo. Ela ficou bastante famosa após o último grande embate entre a Apple e o FBI, e desde então sua popularidade aumentou.
Mas como o caso de Shamrani se cruza com o de Koch? Simples: se as autoridades americanas conseguiram desbloquear o iPhone 11 Pro Max do suspeito de Ohio com a GrayKey, o FBI também conseguiria acessar os iPhones 5 e 7 Plus do atirador de Pensacola — algo que Benjamin Mayo, do 9to5Mac, já havia suspeitado.
Especialistas especulam que Trump, Barr (Procurador-Geral dos EUA) e o Departamento de Justiça estão usando o caso de Pensacola para iniciar uma briga judicial em torno da criptografia de dispositivos móveis. Como podemos imaginar, casos como esse continuarão acontecendo (senão mais vezes) no futuro, e os órgãos de segurança precisarão de uma lei que permita-lhes acessar aparelhos de investigados.
Há, ainda, uma questão financeira por trás disso: se a Apple fosse obrigada a criar backdoors no iOS, o FBI não precisaria mais pagar empresas como a Grayshift e a Cellebrite para desenvolver ferramentas como a GrayKey.
Seja como for, certamente ainda veremos muita água passar debaixo dessa ponte…
via 9to5Mac