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O evento de Schrödinger: fazendo sentido de rumores contraditórios

Tim Cook apoia a mão no queixo em evento da Apple

Pela segunda semana seguida, rumores diametralmente opostos disputaram o mesmo espaço nos sites e podcasts de tecnologia.

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Na semana passada, dependendo de quem estivesse falando, a Apple iria atualizar a linha de iPads, não iria atualizar a linha de iPads, ou talvez lançaria um Apple Pencil com múltiplas pontas magnéticas.

Como agora sabemos, a expectativa por esse rumores prejudicou a reação ao verdadeiro e bem-vindo anúncio do Apple Pencil (USB-C) — que, como eu explorei na semana passada, pode marcar o início de uma necessária reorganização na linha de iPads.

Já nos últimos dias, o samba de rumores se voltou para a linha de Macs.

Desde a metade do ano passado, Mark Gurman já dizia que o iMac pularia a geração de chips M2 e seria atualizado apenas no final de 2023, com os primeiros chips “M3”. Já em julho de 2023, ele disse que, além do iMac, as versões de 13″ do MacBook Air e do MacBook Pro também receberiam o processador.

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Por outro lado, em setembro, ele disse que “olhando para além de 2023 […] a transição para os novos chips estará a todo vapor, com a chegada em MacBooks Air, MacBooks Pro, e outros Macs”. Apesar de não ter ficado explícito no texto, a interpretação mais frequente disso foi que os novos Macs chegariam apenas em 2024.

Por fim, há apenas duas semanas, Gurman cravou que as versões de 14″ e 16″ do MacBook Pro estavam em um estágio inicial de produção em larga escala e, por isso, provavelmente seriam lançadas apenas em 2024.

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Como se esse cenário já não fosse confuso o suficiente, o site Macotakara e para Ming-Chi Kuo acrescentaram à confusão e disseram recentemente que não veríamos iMacs com “M3” tão cedo.

Segundo o site japonês, o iMac seria atualizado em breve, mas com os chips M2 e M2 Pro; já Kuo havia dito que a atualização do desktop ocorreria, na verdade, apenas em 2024. Ele, porém, mudou de ideia após a Apple confirmar um evento para 30 de outubro, exatamente como Gurman havia dito dias antes que aconteceria.

O que está acontecendo com os rumores?

Ming-Chi Kuo sempre foi uma fonte confiável de informações relacionadas aos fornecedores da Apple. Com contatos espalhados por toda a cadeia asiática de suprimentos, Kuo passou anos observando contratos, relatórios fiscais e pedidos de componentes para cravar inúmeros aspectos técnicos de futuros produtos da Apple.

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Ultimamente, porém, Kuo tem dado mais furos n’água do que furos de reportagem. Da informação de que o MacBook Air de 2022 viria equipado com Mini-LED e chip “M1X” em vez do M2, ao relato em que cravou que a Apple teria de reduzir o desempenho do chip A17 Pro para resolver o problema de superaquecimento dos iPhones 15 Pro, Kuo por vezes tem compartilhado informações que se provam opostas à realidade.

Já Gurman parece estar em uma situação curiosa: apesar das inúmeras tentativas da Apple de identificar suas fontes1A rádio peão de Cupertino diz que, há algum tempo, a Apple identificou uma fonte de Gurman e a demitiu de uma forma bastante pública, na esperança de servir de exemplo para os outros. Vocês me dizem se funcionou…, não tem sido raro Gurman dar três ou quatro versões diferentes ou conflitantes a respeito de um mesmo produto, antes de divulgar algo mais certeiro dias (ou horas) antes de ser confirmado pela própria Apple.

A pergunta que fica é: por que isso está acontecendo? Não pode ser uma coincidência o fato de que, por duas semanas seguidas, rumores totalmente opostos sobre um mesmo produto foram noticiados em um espaço tão curto de tempo2Uma possibilidade é a própria Apple estar mudando de planos com maior frequência, apesar de decisões dessa magnitude geralmente serem feitas com bem mais antecedência do que apenas algumas semanas.. Aliás, no caso dos iMacs chegaram a existir três versões conflitantes para o que se tornou o evento “Scary fast”:

  1. A Apple lançaria iMacs com “M3”, como antecipado por Gurman;
  2. A Apple lançaria iMacs com M2 e M2 Pro, como antecipado pelo Macotakara;
  3. A Apple não lançaria iMacs, como antecipado por Kuo, antes de a previsão ser modificada para “terá, mas em poucas quantidades”.

Isso sem mencionar os diversos rumores desencontrados sobre atualizações (ou não) dos MacBooks Pro de 13”, 14” e 16” — além de um iMac maior, que talvez também seja (ou não) um novo iMac Pro.

Minha aposta está nos iMacs com “M3”. Afinal, não faria o menor sentido a Apple intitular um evento como “Scary fast” e lançar algo com as mesmas especificações que já conhecemos.

Mais do que isso, “Scary fast” pode dar a entender que veremos não apenas o chip “M3”, mas também outras variantes ainda mais rápidas. Este lançamento simultâneo, por sinal, seria algo inédito, já que os chips M1 e M2 foram anunciados meses antes das suas contrapartidas mais avançadas.

Curiosamente, a Apple já brincou com a ideia de “Scary fast” quando anunciou os chips M1 Pro e M1 Max. Isso pode dar ainda mais peso à hipótese de que veremos essas variações já no evento de 30/10.

Ainda assim, fico curioso para entender de onde veio a confusão que levou Kuo e Macotakara a crerem (e abonarem) o contrário. Também será interessante observar como a imprensa especializada passará a lidar com futuras informações vindas de ambos, apesar de o raramente correto DigiTimes seguir virando notícia até hoje3O DigiTimes, por sinal, disse há duas semanas que não veríamos Macs com “M3” em 2023..

Mas, e esse evento aí?

Para uma visão geral bastante bem informada sobre o que esperar do evento, recomendo dar uma lida nesse excelente post do Yan Avelino. Se eu puder contribuir com meus palpites, acredito em algo como:

iMac

A história do iMac é confusa (especialmente considerando a geração Pro, que serviu como tapa-buracos durante o período das trevas do Mac Pro), mas, na maioria dos casos, a Apple tem atualizado o iMac em um ritmo médio de dois anos desde 2015.

Linha do tempo de lançamentos do iMac. É feia, mas passa o recado. | Fonte: Wikipédia

Dito isso, como já estamos mais próximos do fim do que do início do ciclo de vida da geração de chips M2, parece improvável que a Apple condene uma nova geração de iMacs a passar os próximos dois anos presa a processadores que, em breve, deverão ser substituídos. Por isso, parece inevitável que o iMac receba o chip “M3” e siga assim até uma nova atualização, com chips “M5”.

Vale manter no radar a remota possibilidade da Apple de fato atualizar os iMacs de 24” com chips M2 e preparar a volta de uma opção com tela maior, equipando-a com o “M3”. Essa hipótese me dá calafrios, o que parece ironicamente apropriado para um evento com subtexto de Halloween. 🥁

MacBooks

Aqui, a coisa fica ainda mais desafiadora. Hoje, há o MacBook Pro de 13″ com Touch Bar e chip M2, além dos “recém-lançados” modelos de 14″ e 16″ com os chips M2 Pro e M2 Max.

O MacBook Pro de 13″ ainda existe por um motivo bem específico: preço. Ele parte de US$1.300, enquanto os outros modelos Pro começam em US$2.000. Se este já é um intervalo absurdo, imagine se não existisse a opção de US$1.300…

Evolução do faturamento da divisão de Macs entre 2018 e 2023 | Fonte: Six Colors

Considerando o fato de o faturamento da divisão de Macs ter caído 29%, 31% e 7% nos três trimestres fiscais de 2023, e se a Apple de fato resolver atualizar os modelos de 14″ e 16″ apenas nove meses após o lançamento da geração atual, ela poderia fazer o seguinte:

  1. Enfim, descontinuar o MacBook Pro de 13″ com Touch Bar;
  2. Lançar um MacBook (talvez sem Pro no nome) de 13″ com “M3” e, com sorte, sem Touch Bar;
  3. Reduzir os preços das versões de 14″ e 16″. Isso tornaria a versão de entrada mais atraente, mas ainda assim aumentaria o gasto médio com a linha como um todo.

Quem conhece a Apple, sabe que ela não é muito fã da ideia de baixar os preços dos seus produtos. É improvável que algo assim aconteça neste momento, mas fato é que, considerando os modelos básicos de todos os laptops que a Apple vende hoje em dia, existe um degrau bem grande (e incomum, considerando as estratégias de preço de iPhones e de iPads) na faixa entre US$1.300 e US$2.000.

Bônus: MacBook Air

Historicamente, o MacBook Air foi o abre-alas de cada geração básica do Apple Silicon. Atualmente, a Apple vende a versão de 13″ com chip M14Novamente, puramente por conta do preço., a versão de 13″ com M2 (lançada em julho de 2022) e a versão de 15″ (lançada há pouco mais de quatro meses, na WWDC23).

Se fosse manter o padrão, a Apple poderia remover a versão de 13″ com M1 da linha, reduzir o preço da versão de 13″ com M2 para US$999 e anunciar uma versão de 13″ com “M3”.

O problema seria, é claro, a versão de 15″ com M2. Ao atualizar apenas a versão de 13″ para o “M3″, a Apple criaria mais um descompasso na linha. Ao atualizar ambas, ela irritaria bastante os compradores da versão de 15” cujas máquinas ainda cheiram a novas.

A solução mais óbvia seria esperar até o ano que vem e fazer todas essas mudanças, perto do aniversário de um ano de lançamento do MacBook Air de 15″. Isso pode, de quebra, aliviar o problema de escassez que Ming-Chi Kuo cravou que pode afetar a geração “M3” — a menos, é claro, que o rumor sobre a escassez também seja retratado nas próximas semanas.

Notas de rodapé

  • 1
    A rádio peão de Cupertino diz que, há algum tempo, a Apple identificou uma fonte de Gurman e a demitiu de uma forma bastante pública, na esperança de servir de exemplo para os outros. Vocês me dizem se funcionou…
  • 2
    Uma possibilidade é a própria Apple estar mudando de planos com maior frequência, apesar de decisões dessa magnitude geralmente serem feitas com bem mais antecedência do que apenas algumas semanas.
  • 3
    O DigiTimes, por sinal, disse há duas semanas que não veríamos Macs com “M3” em 2023.
  • 4
    Novamente, puramente por conta do preço.

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