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Com grande potencial, “Criminal Record” segue com louvor a tradição das séries policiais britânicas

Para qualquer pessoa que tem alguma afeição às famigeradas séries policiais que surgem aos borbotões nos canais de TV e nas plataformas de streaming, uma impressão já é basicamente unânime: as produções britânicas do gênero são, no geral, muito melhores do que as suas contrapartes estadunidenses.

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Há quem diga que a razão para isso é a (quase) completa falta de armas nas narrativas vindas do Reino Unido — afinal, quando seus detetives e agentes da lei não precisam carregar máquinas de matar a todo tempo, tiroteios e confrontos deixam de ser aspectos preponderantes do roteiro, o que deixa mais tempo para uma boa análise psicológica dos personagens e a construção de um mistério mais bem amarrado.

Por outro lado, há quem defenda que a razão por trás dessa diferença está nas próprias fundações da cultura britânica: a inexistência de uma constituição formal, o senso de comunidade mais apurado, a influência incomensurável de Agatha Christie ou até mesmo o simples fato de que as pessoas andam mais a pé nas ruas e, portanto, se encontram mais. Não sei, você que me diz.

A Apple provavelmente sabe disso, considerando que já renovou “Slow Horses”1Sim, sabemos que “Slow Horses” é tecnicamente uma série de espionagem, mas, convenhamos, os dois gêneros estão mais próximos que nunca… para a quinta(!) temporada e, agora, já tem mais uma série policial britânica para chamar de sua no catálogo: “Criminal Record” (ou “Histórico Criminal”, em português), que chegou ao Apple TV+ na última quarta-feira, dia 10/1.

E a notícia boa é que sim, a nova produção da Maçã tem totais condições de manter o status quo e seguir com a tradição britânica de boas séries policiais — ainda que, no geral, a impressão seja mais de potencial hipotético do que propriamente realizado até o momento.

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Em termos de história, não espere nada de muito revolucionário aqui: na primeira temporada, somos apresentados à detetive June Lenker (Cush Jumbo, de “The Good Wife” e “The Good Fight”), uma mulher negra que já tem alguma trajetória na polícia mas ainda é considerada uma agente inexperiente por seus pares, e ao inspetor-chefe Daniel Hagerty (Peter Capaldi, o maravilhoso décimo-segundo “Doctor Who”), um homem branco e de caráter dúbio, pronto para resolver seus casos da forma mais simples e rápida possível, ainda que isso signifique deixar algumas pontas soltas pelo caminho.

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O ponto inicial da narrativa é uma ligação anônima, recebida por Lenker, a qual indica que um caso fechado por Hagerty mais de uma década atrás pode não ter sido realmente solucionado — e a pessoa (também negra) condenada pelo crime, que está cumprindo uma sentença de 24 anos na cadeia, pode na verdade ser inocente.

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O que se segue é um jogo de poderes e interesses que traz, em sua própria natureza, questões de gênero, raça e posição social, em que Hagerty e Lenker alternam posições de parceria e antagonismo. Aqui, um dos maiores méritos do roteiro de Paul Rutman (que também é creditado como criador da série) é fugir do clichê de colocar Lenker como uma detetive novata e inexperiente: sua personagem já é uma policial intermediária nos escalões da corporação e, com isso, consegue ser uma adversária à altura para a figura implacável de Hagerty; ainda assim, ela não está imune às microagressões destinadas à sua própria identidade.

Não há dúvidas de que o grande destaque é a dobradinha de Jumbo e Capaldi, cada um trazendo o que sabe fazer de melhor em seus personagens: ela, com uma figura forte e impositiva, mas que carrega no olhar a insegurança e o trauma de um passado que (ainda?) não é claramente explicado; ele como o personagem de poucas palavras que pode, em questão de um piscar de olhos, tomar a atitude mais imprevisível que se poderia imaginar. “Criminal Record” brilha mais toda vez que coloca os dois atores em cena juntos — brilha, aliás, de tal forma que mal deixa espaço para os coadjuvantes, que acabam não registrando como quase nada além de meros instrumentos do roteiro.

Outro ponto positivo é a direção pouco intrusiva de Jim Loach, que prefere deixar espaço para a história e para as atuações dos dois protagonistas — prova disso são os longos planos fechados no rosto de Lenker, bem como a paciência em deixar que um diálogo percorra todo o seu fluxo natural até se esgotar, em vez de (como temos visto cada vez mais na era do déficit de atenção) simplesmente cortar para a próxima cena quando as informações essenciais já foram proferidas pelos personagens.

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Se há algo que talvez deixe a desejar em “Criminal Record”, é justamente o caso que norteia a narrativa: embora seja eficiente para trazer à tona os temas dos quais Rutman deseja tratar, o mistério não é envolvente o bastante para — como outras séries policiais conseguem fazer tão bem — prender o espectador na cadeira e passar os dias se perguntando sobre como solucionar a charada. É bem verdade que, no fim das contas, o caso acaba sendo apenas um pretexto para uma narrativa mais complexa, mas uma produção desse tipo precisa saber fazer o básico antes de querer alçar voos mais ambiciosos.

Isso não quer dizer, claro, que a série falhe no seu propósito. Muito pelo contrário: as bases estão muito bem postas aqui e, numa eventual segunda temporada, a relação entre Lenker e Hagerty poderá ser ainda mais bem destrinchada com um caso mais envolvente. É por isso que, como citei acima, “Criminal Record” é uma série com mais potencial do que entrega — mas, ainda assim, o que ela entrega já é mais do que o suficiente para os fãs do gênero.

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Notas de rodapé

  • 1
    Sim, sabemos que “Slow Horses” é tecnicamente uma série de espionagem, mas, convenhamos, os dois gêneros estão mais próximos que nunca…

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