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Criador do SmartGym, Matt Abras fala sobre IA, Vision Pro e mais em entrevista ao MM

Matt Abras

Já reconhecido pela própria Apple por diversas vezes — inclusive, recentemente, como o “App do Ano” para Apple Watch —, o SmartGym é um dos aplicativos focados em exercícios mais populares presentes na App Store. Sucesso inquestionável, o software tem basicamente um único nome por trás dos muitos recursos e novidades lançadas ano após ano na plataforma: o brasileiro Matt Abras.

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“Faço praticamente tudo sozinho”, disse ele em entrevista exclusiva concedida ao MacMagazine. Em nossa conversa, Matt falou sobre assuntos como o processo de desenvolvimento do SmartGym, inteligência artificial/machine learning e até mesmo sobre o vindouro Apple Vision Pro, cuja App Store deverá ganhar uma versão do seu aplicativo já no primeiro dia de lançamento.

Por outro lado, o desenvolvedor descartou o desenvolvimento de um app para Android. Para ele, os Apple Watches estão “muito à frente dos concorrentes” e abrem margem para possibilidades não existentes com o sistema operacional do Google.

Sem mais delongas, vamos ao papo completo!

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Como surgiu a ideia de criar o SmartGym? Foi algo já originalmente pensado como um projeto comercial ou — como acontece em muitos casos de apps de sucesso — uma experiência mais pessoal?

Na verdade, o SmartGym foi criado em 2014 como uma empresa B2B. Era uma plataforma moderna para as academias gerenciarem seus alunos, treinos, aulas e agenda. Em novembro de 2014 (logo depois de a Apple anunciar o Watch), fiz os primeiros protótipos de como seria o SmartGym no relógio. Mas, na mesma época, minha outra startup começou a crescer muito e acabamos não seguindo com o SmartGym.

No final de 2016, resolvi pegar esses protótipos de 2014 e transformá-los em um app completamente diferente do que era inicialmente — como um projeto pessoal, mesmo. Fiz praticamente pra mim. Virou um app para o gerenciamento de treinos, criado inteiramente em torno do Apple Watch. Esse app cresceu para o que o SmartGym é hoje.

Uma passada rápida na página de especificações do SmartGym é suficiente para perceber o quão grande e repleto de recursos é o app. Como é manter um projeto desse porte como um desenvolvedor independente? Há alguma equipe para lhe ajudar em coisas pontuais ou você faz, realmente, tudo sozinho?

Eu sempre falo que é Deus quem faz isso tudo acontecer, porque ainda faço praticamente tudo sozinho. Design, marketing, programação, suporte… continua sendo tudo eu, mesmo. Algumas áreas eu utilizei colaboradores. Por exemplo: as traduções para outros idiomas, descrição de execução de cada exercício e a criação das fichas pré-montadas (disponíveis na aba Explorar), foram todos feitos por profissionais qualificados.

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É extremamente desafiador e incrível, mas não foi o planejado. Como falei, o SmartGym nasceu como um projeto pessoal, mas começou a crescer exponencialmente e agora está desse tamanho todo.

Comparando superficialmente a presença do SmartGym na App Store brasileira com a na loja americana, percebemos uma coisa interessante: embora seja um app criado por um brasileiro, ele foi mais baixado no exterior que no próprio Brasil. A que você acha que se deve esse sucesso do software no mercado internacional? Houve algum tipo de direcionamento visando o público de fora em termos de publicidade/divulgação ou foi algo que aconteceu de forma mais natural/não intencional?

Aconteceu naturalmente. Se você olhar o mercado de saúde e fitness no mundo, o país com maior quantidade de academias no mundo é os Estados Unidos, seguido pelo Brasil. Além disso, a proporção de iPhones na população é muito maior nos EUA do que no Brasil (não há SmartGym para Android). Além de a própria população deles também ser bem maior que a do Brasil.

Ainda pegando esse gancho, quais você acha que são as maiores diferenças entre o mercado brasileiro e o americano? Além do poder aquisitivo — que tende a ser maior por lá, claro.

Uma das questões mais importantes que aprendi com o SmartGym é que treinar varia muito de cultura para cultura. É algo extremamente individual e pessoal. As pessoas acabam tendo suas próprias formas de criar suas fichas, acompanhar seus treinos e anotar seus progressos. Consequentemente, cada pessoa/cultura acaba utilizando o app da sua forma e com abordagens diferentes.

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Uma diferença muito grande entre o mercado brasileiro e o americano é que nos EUA não é muito comum se ter a presença de um profissional qualificado no “salão” da academia. Logo, não tem ninguém para lhe ajudar ou tirar dúvidas. No Brasil, na maioria das academias há pelo menos um profissional presente, os quais acabam até ajudando [os usuários] a criar suas fichas. Com isso, o SmartGym acaba suprindo demandas diferentes em cada região.

É interessante notar que o SmartGym está sempre muito atualizado com as novidades mais recentes lançadas pela Apple nos seus sistemas operacionais, como recursos de novos SOs, APIs, etc. A que se deve esse ritmo tão constante de atualizações? Imagino que deve existir uma verdadeira força-tarefa para que isso aconteça.

Sim, existe todo um enorme planejamento do meu lado para que isso aconteça todo ano. O ano inteiro é planejado e o roadmap é traçado já com isso em mente.


O motivo é muito simples: eu sou completamente apaixonado por tecnologia e eu realmente uso o SmartGym no meu dia a dia. Ou seja, mais do que qualquer outro usuário, eu sou o que mais quer utilizar as novidades dos novos sistemas da Apple. E é assim desde a minha primeira startup, em 2011: sempre lanço uma atualização enorme no primeiro dia dos novos sistemas.

É uma coisa que, inclusive, apps grandes — que contam com uma enorme equipe por trás, como o WhatsApp — não conseguem fazer tão bem. A que acha que se deve essa inércia dessas grandes empresas? Comodismo?

Não consigo falar em relação a outros apps e empresas.

Viajando um pouco mais para o backend, tenho certa curiosidade em saber se você tenta adequar o código do SmartGym às mais recentes novidades lançadas pela Apple em termos de desenvolvimento. O SwiftUI, por exemplo, ainda parece bastante limitado em relação ao UIKit, mas você já trabalha bem com ele?

Eu amo o SwiftUI. Praticamente todo o app do Apple Watch hoje é em SwiftUI. Muitas funcionalidades do app do iPhone e iPad também já são em SwiftUI, como os Widgets, Resumos (mensal e das fichas), SharePlay, Zonas de Batimentos Cardíacos e por aí vai. Mas o SmartGym suporta [iPhones que rodam] desde o iOS 12, que não tem suporte ao SwiftUI. Então, por esse motivo, não dá para usá-lo sempre.

E quanto ao novo framework para persistência de dados, o SwiftData? Já substituiu ou, porventura, pensa em substituir o Core Data por ele?

SwiftData é apenas para iOS 17 ou superior. Como o SmartGym suporta desde o iOS 12, por enquanto ainda não é interessante usá-lo.

Vamos falar agora sobre um assunto que gera muita expectativa em todo mundo, que é o Apple Vision Pro e todo o conceito de computação espacial apresentado pela Maçã na última WWDC. Imagino que seja um desafio pensar em como integrar o SmartGym a essa novidade toda, de encontrar utilidade para o app nesse novo sistema. Há algo sendo encaminhado nesse sentido? Veremos o SmartGym disponível na App Store do visionOS a curto, médio ou longo prazo?

Tem sim. Se Deus quiser, vai ter a versão do SmartGym no primeiro dia em que o Vision Pro estiver disponível. O foco do app vai ser mais na área de produtividade, como criação e gerenciamento dos treinos e análise do seu progresso e gráficos. Vai ser uma experiência incrível para usuários normais e, principalmente, para personal trainers que utilizam o SmartGym para gerenciar seus clientes/alunos.

O SmartGym tem app para o watchOS, o iOS, o iPadOS e até mesmo para o macOS. Mas ele ainda é limitado aos sistemas operacionais da Apple. Já cogitou desenvolvê-lo também para relógios e smartphones com Android?

Não vejo hoje um relógio Android com a qualidade e o sucesso do Apple Watch. A tela retina OLED1Organic light-emitting diode, ou diodo emissor de luz orgânico., o Apple Silicon e toda a plataforma de desenvolvimento do Apple Watch (como SwiftUI, por exemplo) estão muito à frente dos concorrentes. O Smart Trainer roda localmente no Apple Watch, por exemplo, sem a necessidade de ter conexão com a internet ou o iPhone por perto. Atualmente não vejo isso sendo possível em um relógio com Android.

Assuntos como inteligência artificial e machine learning estão na moda atualmente, mas vejo que você começou a implementá-los no SmartGym bem antes desse boom atual, com os Treinos Inteligentes (Smart Trainer). Você poderia falar um pouco sobre a tecnologia por trás desse recurso? Teremos mais novidades envolvendo IA/ML em breve?

O Smart Trainer (a IA do SmartGym) foi criado no início de 2020. Graças a Deus, porque acabou sendo de extrema importância para diversas pessoas no mundo durante a pandemia. E até hoje tem sido a função mais elogiada e utilizada no app — inclusive recebo constantes emails de personal trainers do mundo inteiro querendo utilizar o Smart Trainer para auxiliá-los na criação de treinos dos seus clientes.

O Smart Trainer é bem inteligente e consegue criar um treino personalizado para você com base no equipamento que você possui (nenhum equipamento também é uma opção), nos músculos que deseja trabalhar, na frequência e na duração que deseja treinar… além disso, ele acompanha todos os seus treinos e sugere alterações de acordo com o seu progresso.

O Smart Trainer está constantemente sendo atualizado, com cada vez mais melhorias e novidades.

Assim como muitos outros apps populares nesse mundo da Apple, o SmartGym mudou de um modelo de compra única para o de assinaturas — isso caso o usuário queira ser contemplado com recursos não disponíveis na versão gratuita. O que motivou essa mudança? Acha que o mercado e o universo tecnológico tão volátil quanto o atual força a implementação do modelo por assinaturas?

Hoje em dia é praticamente inviável ter um aplicativo de sucesso com pagamento único. Todos os custos para manter o serviço rodando são recorrentes. Apenas para manter o app rodando por anos, sem qualquer novidade, exige do nosso lado um trabalho enorme para sempre adaptar às mudanças dos novos SOs. E, como você mesmo citou, atualmente são quatro SOs diferentes. Fora isso, queremos sempre melhorar o app. Colocar novas funcionalidades e novos conteúdos…

Se eu não tivesse migrado para o modelo de assinaturas em 2018, hoje o SmartGym não existiria mais.

Como case de sucesso, teria alguma dica para quem está começando agora nessa área de desenvolvimento e programação?

Algo que eu aprendi há um tempo e que carrego comigo desde então: sempre sonhe muito alto, porque Deus é gigante. Encontre o que você ama fazer e faça tudo com muita excelência, prestando atenção aos menores detalhes, porque cada pequeno detalhe importa. E persevere. Não desista no primeiro desafio ou dificuldade. Como o Steve Jobs dizia, “se você realmente olhar com atenção, a maioria dos sucessos da noite para o dia levou muito tempo”.

A App Store é uma oportunidade incrível! Com um botão, você consegue disponibilizar seu aplicativo para mais de 2 bilhões de dispositivos ativos e a Apple ainda cuida de todo o sistema de pagamento e gerenciamento de cartões de crédito para os desenvolvedores.

Os hardwares da Apple são fantásticos e cada vez melhores. Todo ano a Apple lança várias novidades de software. Com isso, sempre há diversas novas possibilidades que podem ser criadas.

Então, encontre o que você ama fazer. Escolha um problema que você vê hoje e solucione esse problema da melhor forma possível. E não desista, persevere. Se você solucionar o problema da forma correta, com certeza muitas pessoas vão querer sua solução.

Para fechar, o que podemos esperar em termos de recursos para o futuro do SmartGym?

Fique de olho. Tem muita novidade vindo, se Deus quiser! 😊


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SmartGym: com Treinos em Casa de Mateus Abras
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Notas de rodapé

  • 1
    Organic light-emitting diode, ou diodo emissor de luz orgânico.

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