Jogar no Mac tem sido uma experiência difícil por décadas, de modo que, até certo tempo atrás, se você quisesse rodar jogos AAA, seria necessário usar um PC (geralmente com Windows). Isso, porém, não foi estritamente por desinteresse da Apple, já que a empresa realizou tentativas de levar jogos desktop para os Macs — ainda assim, nada de fato impulsionou isso… possivelmente até agora.
No macOS Sonoma 14, que será lançado ainda neste ano, a Apple introduzirá o modo Jogo, o qual automaticamente dará aos games prioridade máxima na CPU1Central processing unit, ou unidade central de processamento. e na GPU2Graphics processing unit, ou unidade de processamento gráfico. do Mac, reduzindo o consumo desses recursos de outras tarefas. Além disso, a Maçã alega que isso reduzirá drasticamente a latência de acessórios sem fio, como AirPods e controladores de jogos.
Para além dessa nova função, a companhia também tem uma “arma secreta” para levar jogos de PCs para Macs: suporte ao DirectX 12 — uma API3Application programming interface, ou interface de programação de aplicações. usada especialmente para programação de jogos no Windows, comparável à API Metal da Apple.
Mais precisamente, a Apple adicionou suporte ao DirectX 12 por meio de algo que está chamando de Game Porting Toolkit, uma ferramenta que permite aos desenvolvedores verificar como seus jogos (compatíveis com DirectX 12) funcionam em Macs com chips da Apple — e é com isso que a companhia poderá mudar de vez a reputação dos jogos em suas máquinas.
Como detalhado em uma matéria do Inverse, esse kit de ferramentas funciona em grande parte como um “atalho” de 20.000 linhas de código do Wine, plataforma projetada para oferecer suporte a jogos do Windows em sistemas como Linux, BSD e macOS. Uma breve contextualização: o Wine é patrocinado principalmente pela empresa CodeWeavers, a qual também possui uma versão comercial da ferramenta chamada CrossOver — que, inclusive, também terá suporte ao DirectX 12 para jogos no Mac —, a qual funciona convertendo chamadas de sistema feitas para APIs do Windows em versões que podem ser usadas por outros sistemas operacionais.
Desse modo, o Game Porting Toolkit simplifica um processo que poderia ser demasiadamente complicado e pouco estimulante. Com zero necessidade de modificar qualquer código, um universo de jogos — inclusive AAA — poderá rodar em Macs com Apple Silicon quase como se fosse nativo.
Naturalmente, entusiastas e desenvolvedores de jogos começaram a experimentar o novo kit de ferramentas e alguns conteúdos compartilhados na web mostram resultados verdadeiramente notáveis.
Em um MacBook Pro com chip M2 Max, por exemplo, o jogo Diablo IV roda a quase 90 quadros por segundo (frames per second) na configuração “Ultra” em sua resolução padrão — já em um MacBook Pro com chip M1 Max, o título chega a 60qps a 1080p. A título de comparação, em uma placa NVIDIA GeForce RTX 4080, o game pode rodar a 90qps a 4K em “Ultra”.
Embora o desempenho dos jogos varie de acordo com o título e a potência do processador das máquinas — os chips M1 dos MacBooks Air e Pro de 13 polegadas não se saem tão bem quanto os chips M2 Max/Ultra dos Macs topos-de-linha, por exemplo — é claro que os engenheiros da Apple testaram alguns dos jogos mais populares com esse kit de ferramentas em uma variedade de dispositivos, a fim de disponibilizar suporte a todas as máquinas com Apple Silicon.
Mais do que isso, a comunidade de desenvolvedores independentes começou a adotar maneiras de tornar mais fácil para usuários comuns tirarem proveito do Game Porting Toolkit com utilitários como Whisky, com o qual é possível criar e gerenciar, instalar e executar aplicativos e jogos do Windows e desbloquear todo o potencial do Mac sem a necessidade de conhecimento técnico.
Naturalmente, só o tempo revelará se os esforços mais recentes da Maçã enfim ajudarão a injetar mais novidades em termos de jogos para Macs; de qualquer forma, os prognósticos são bastante positivos.
Notas de rodapé
- 1Central processing unit, ou unidade central de processamento.
- 2Graphics processing unit, ou unidade de processamento gráfico.
- 3Application programming interface, ou interface de programação de aplicações.
