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Editoras apostam em Matemágica para chorar os preços de ebooks

iPads em pé - iBooks

O NYTimes.com publicou hoje um artigo com informações que eu esperava ver há um tempo: o ponto de vista das editoras em meio à confusão de preços de ebooks. Logo de cara, é deixado bem claro que as expectativas dos consumidores “não são realistas” em relação aos valores que podem ser praticados. Contudo, os argumentos apresentados ao longo do texto é que parecem não condizer muito com a realidade — ou com a lógica.

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Buga-buga-buga-BUGA! Eu mato livros!!

Inicialmente, tomemos o preço de um lançamento em capa dura: US$26. A livraria paga à editora US$13 por cada unidade, então vamos fazer as contas só com a outra metade restante. Pegue sua calculadora favorita e vamos à soma:

  • US$3,25 para imprimir, armazenar e transportar os livros físicos, inclusive receber as cópias não vendidas em livrarias;
  • US$0,80 para design de capa, tipografia e editoração;
  • US$1,00 para marketing (um tanto mais ou um tanto menos, a depender do título);
  • O autor leva, tipicamente, 15% de royalties — o que, no nosso exemplo, dá US$3,90.

Fazendo as contas, estes custos totalizam US$8,95, sobrando para a editora US$4,05: com esse dinheiro é que são pagos todos os profissionais e custos fixos de instalação, tendo ainda que sobrar algo para o lucro. Acho que os outros US$13 ficam com a livraria, que vai pagar aluguel, eletricidade e empregados, além de tirar seu lucro.

Se fizermos algo semelhante com um ebook vendido a US$13 (metade do preço de um capa-dura), no modelo de agenciamento que a Apple adotará na iBookstore temos que 30% dos ganhos ficam com o vendedor (a Maçã) e os outros 70% vão para a editora: US$9,10. Vamos desdobrar este valor com os custos:

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  • US$0,50 para converter o texto num arquivo digital, compondo-o e editorando-o;
  • US$0,78 vão para os gastos com marketing;
  • Os royalties do autor podem ser calculados como 25% dos lucros brutos ou do preço de venda, então eles podem ficar por volta de US$2,27–3,25.

O total desta soma resulta em US$3,55–4,53, o que deixa US$5,55–4,57 para a editora. É mais lucrativo? Pode apostar! E é aqui que as coisas começam a ficar tortuosas: as editoras alegam que ebooks ainda representam uma fatia ínfima das vendas (3% a 5%, muito pouco), e que, crescendo, eles podem canibalizar vendas de capas-duras. O problema grande seria que os custos para produzir livros físicos continuariam ali, tendo que ser diluídos entre menos cópias vendidas. Os riscos de adotar uma faixa de preço inferior ainda se acumulam e tornam a aposta em novos nomes mais arriscada, pois não é possível fazer 5+2=15* e vender edições de bolso muito mais baratas (e lucrativas) para recuperar quaisquer prejuízos da edição “de luxo”.

Tudo bem, até aí? Eu ainda não me sinto convencido, especialmente pelo fato de ebooks serem ambientalmente mais neutros — ei, cópias não vendidas vão para onde, mesmo? Pro Céu? Só que os argumentos das editoras vão degringolando até o ponto do nonsense. Por exemplo, apelar para o lado nobre dos consumidores e dizer que ebooks baratos vão prejudicar imensamente livrarias independentes que não poderão concorrer faz sentido (pense nos empregos e na lojinha charmosa da esquina, onde você sempre passa, mas nunca compra!), porém dizer que a Barnes & Noble (aquela, do Nook) vai ser prejudicada, aí é demais.

A Barnes & Noble será vitimada pelos ebooks. Certo…

Mas a pérola do artigo vai para Mike Shatzkin, chefe executivo da Idea Logical Company (uma firma de consultoria para editoras): “Se você quiser que as livrarias continuem vivas, então você vai querer atrasar a migração para ebooks. A forma mais simples [de fazer isso] é não permitir que ebooks fiquem baratos demais.” Protecionismo puro, descarado: como eu AMO isso! É passar um atestado de “podemos fazer os livros ficarem baratos até demais e ainda lucrar, mas não queremos isso”. Pior. Argumento. EVER!

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No final das contas, eu devo concordar com Anne Rice (a qual muitos de vocês podem reconhecer como criadora do vampiro Lestat), apesar de não ser fã dela: “A única coisa que considero um erro é as pessoas tentarem conter os ebooks ou o Kindle e iniciar esta revolução construindo uma represa. Não vai funcionar.” Amém, Anne, amém. Será preciso todas as obras dela caírem (de novo) em torrents e as pessoas se recusarem a comprar por causa da idiotice das editoras para alguém com poder de mudança se tocar de que manter os preços artificialmente elevados não liga?

Agora eu penso: acabar com as livrarias? Tipo, não é isso o que acontece, com o passar do tempo? Lembra dos LPs? Quem compra LPs, hoje? Audiófilos — e só alguns! Daqui a 20, 30 anos, pode ser que um livro de papel seja o que um LP é hoje. Oh, a humanidade! Eu _adoro_ livros (quando compro um novo, abro, cheiro, folheio e escuto o som que as páginas fazem), mas não vejo o avanço da tecnologia como algo necessariamente danoso: entre livros de papel custando os olhos da cara e livros eletrônicos a um preço acessível, eu digo “Salvem as árvores!” Ter 900 obras que eu li num computador (e posso pesquisar nelas facilmente) e 5 que eu paguei os tubos simplesmente pra ter a peça impressa (por serem #epicWINs) é preferível a ter que gastar o mesmo preço desses 905 livros em 100 obras que vão abarrotar minha casa e acabar virando comida de traça, subutilizadas por serem de difícil manuseio.

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Ei, e que tal as livrarias virarem um tipo de loja onde você pode chegar e desfrutar de uma infraestrutura de lanchonete, mesas, vendedores instruídos e usar a rede Wi-Fi local para ler/comprar ebooks? Acho que a B&N, uma “vítima” dos ebooks, ia fazer exatamente isso com o Nook. Você leva seu ereader e faz a festa lá dentro — ou usa um da loja. Os estabelecimentos podem continuar existindo, basta eles se adaptarem e, em vez de virarem um lugar onde você entra e encontra um vendedor ocupadíssimo abarrotando prateleiras e caçando livros escondidos em malocas insondáveis, pode encontrar alguém que ajude você a escolher bem um livro para dar de presente ou te recomendar um bom autor novo, desconhecido. Em vez de vender produtos, as lojas podem vender uma boa experiência, pra variar.

Sem falar que a mesma abertura para desenvolvedores de software independentes pode acabar chegando ao mercado editorial e, se duvidar, qualquer um poderá publicar algo numa loja de livros eletrônicos — se vender, ótimo, se não vender, azar, bem diferente de imprimir 400 mil calhamaços de papel que podem virar peso de porta ou não. Não funciona pra iPhone App Store? Por que não poderia funcionar pra livros? Com uma possibilidade dessas, o argumento das editoras de que elas não poderão mais apostar em novos talentos vai pelo ralo. 😛

Ainda não estou comovido: quero uma segunda opinião.

And that, as they say, is that.

[via AppleInsider]

· · ·

* Por que, em vez de vender caro no Natal e cortar metade do preço em janeiro, as lojas não fazem tudo ser mais barato o ano todo? Porque, dependendo da oferta e da procura, 2+2 é igual a 4, mas 3+1 pode ser igual a 725. 😛

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