No sábado, um trabalhador de 21 anos da Foxconn — sim, aquela dos rumores sobre o novo iPhone — se jogou/caiu do sétimo andar de um dos dormitórios para empregados, com severos cortes e junto a uma adaga. Ainda não há certeza de ser um caso de suicídio, dadas as condições do local onde o rapaz foi encontrado, mas esta ocorrência vem apenas quatro dias depois de uma moça de 24 anos dar fim à própria vida em outras instalações da mesma empresa.
Antes de mais nada, uma coisa deve ser observada: o número suicídios nas dependências da Foxconn está bem abaixo da taxa de suicídios na China (a qual é assustadoramente maior que a do Brasil). Isso é um argumento, mas ele pode ser refutado se levarmos em conta que a empresa alega ter impedido outras 30 tentativas de suicídio entre seus empregados, apenas nas últimas três semanas(!).
Outra coisa a esclarecer de antemão é que, apesar de ser uma parceira da Apple na fabricação de seus produtos, a Foxconn (ou Hon Hai Precision Industry Co., como também é conhecida) produz gadgets para inúmeras empresas de tecnologia, inclusive Sony, Nintendo e HP. Ou seja, se esta notícia fizer você olhar estranho para um iPod, não vai adiantar de nada ir aplacar sua consciência jogando num PlayStation 3.
Em todo caso, o que estaria acontecendo aos empregados desta empresa? A situação chegou ao ponto de monges budistas serem recrutados para livrar o lugar da influência de maus espíritos — isso pode parecer tolice para nós, mas saiba que superstições são levadas bem a sério no Oriente. As causas para essa epidemia de suicídios certamente são complexas, envolvendo desde o perfil cultural dos empregados até a falta de interação social nas instalações da fábrica. O trabalho pode inclusive não ser cruel de maneira objetiva, que um comitê possa detectar numa inspeção, mas condições subjetivas, como falta de oportunidades de interação entre os trabalhadores, são tão insalubres quanto exposição a substâncias tóxicas.
A Apple já veio a público este ano para expressar preocupação quanto às condições de trabalho oferecidas por suas parceiras. Resta saber se ela tomará alguma medida mais direta a respeito disso ou se pelo menos vai investigar mais a fundo o que se passa dentro da Foxconn.
Fica uma ideia, tanto para a Maçã quanto para quem quiser chegar mais perto do cerne desta história: colocar uma pessoa para trabalhar nesta fábricas e, posteriormente, fornecer impressões do que acontece — pois “inspeção de rotina” e “nada” significariam a mesmíssima coisa, neste tipo de caso. A esta altura, se eu tivesse os recursos para tanto, faria isso de bom grado.
[via Telegraph]