Quem acompanhou o noticiário internacional nas últimas semanas provavelmente soube dos acontecimentos no estado do Texas (Estados Unidos) relacionados ao direito ao aborto — ou melhor, à falta dele. Agora, um grupo de ativistas digitais está recorrendo a um instrumento muito popular do iPhone, o aplicativo Atalhos, para se posicionar contra as decisões recentes. As informações são do USA TODAY.
Caso você não tenha acompanhado o caso, aí vai um breve resumo: a chamada “Lei do Batimento Cardíaco” entrou em vigor no estado no início deste mês e representa, na prática, uma proibição quase total da interrupção de gravidezes no Texas.
Em suma, a lei proíbe qualquer aborto de fetos com mais de seis semanas de gestação, um período no qual a maioria das mulheres sequer tem conhecimento da gravidez. A lei reverte a famosa decisão Roe vs. Wade, da Suprema Corte dos EUA, que permitia a interrupção de uma gravidez até que o feto fosse considerado viável — isto é, apto a sobreviver fora do útero, o que ocorre entre 22 e 24 semanas de gestação.
A nova lei texana admite abortos pós-seis semanas apenas em casos de emergência médica, mas não em casos de estupro ou incesto. E, em um outro ponto polêmico, a regulamentação tem caráter civil: qualquer cidadão que tenha conhecimento de um aborto considerado ilegal pode denunciar e processar os médicos (ou quaisquer outras pessoas) responsáveis pelo procedimento.
Por conta disso, alguns grupos contrários ao aborto estabeleceram páginas de denúncia na internet — isto é, sites nos quais cidadãos podem relatar violações à nova lei para que os próprios grupos entrem com processos contra os responsáveis. E foi justamente em um desses sites que os ativistas entraram em ação — com uma ajudinha do Atalhos do iOS.
O TikToker Sean Black, conhecido como black_madness21
, criou um atalho capaz de automatizar o envio de informações falsas para um dos sites de denúncia criados pelos grupos contra o aborto. O script, conhecido como “AbBOT”, envia uma denúncia falsa para a página a cada 10-15 segundos, com nomes, cidades, condados e códigos postais gerados aleatoriamente.
@black_madness21 #stitch with @victoriahammett I’ll see if I can add some multithreading to speed up this process
♬ original sound – Sean Black
Até a noite da última quinta-feira, segundo Black, mais de 4.170 pessoas tinham acessado o código e cerca de 4.870 clicaram no link para o atalho. O ativista afirmou que conseguiu enviar cerca de 300 denúncias falsas antes do bloqueio do seu IP — e agora, seu trabalho está concentrado em burlar o sistema de CAPTCHA que foi implementado na página.
Apesar de não impossibilitar, Black considera que seu atalho pode dificultar o trabalho dos grupos contra o aborto. O ativista considera a nova legislação uma prática reminiscente do macarthismo, a prática política implementada no auge da Guerra Fria para incentivar cidadãos a denunciar pessoas próximas por suposta “atividade comunista”. Black comentou o seguinte:
Para mim, as táticas macarthistas de colocar vizinhos uns contra os outros por conta de uma lei que, acredito eu, é uma violação da decisão Roe vs. Wade, é inaceitável. Existem pessoas no TikTok usando sua visibilidade para educar e fazer sua parte. Eu acredito que estou fazendo a minha.
Os responsáveis pelo site de denúncias, por sua vez, não se pronunciaram, mas provavelmente terão outros obstáculos pela frente: o serviço de hospedagem GoDaddy anunciou no fim da semana passada que a página viola seus termos de serviço e terá de ser removida dos seus servidores.
via People