Parece meio louca, uma afirmação dessas, mas o raciocínio que Horace Dediu constrói em um de seus posts no asymco vira de ponta cabeça a forma como encaramos o mercado de celulares. A grande batalha desta década no ramo de gadgets móveis não seria “iOS contra Android”, mas “smartphones contra celulares comuns” — e, nesta guerra, Google e Apple lutam do mesmo lado.
O pior que pode acontecer em uma indústria é todos os concorrentes brigarem para ver quem tem o preço mais baixo: essa “corrida para o fundo” destrói as margens de lucro e corrói as imagens dos fabricantes — basta olhar pro mercado de PCs e ver o banho de sangue. Estaria isso se passando no mercado de celulares? Não, e o gráfico acima mostra isso.
O preço médio de venda de celulares dos oito maiores fabricantes do setor não está em queda (linha azul). Ou melhor, se descontarmos a participação da Apple (linha laranja), ele está praticamente estável, com uma queda muito pouco expressiva — ao contrário do mercado de PCs, em que o declínio vem sendo rápido e mortal. Por que os celulares não estão repetindo a história dos computadores pessoais? Por causa do Android.
Enquanto “dumbphones” (celulares comuns) estão se desvalorizando no mercado, o preço médio de venda de smartphones tem subido visivelmente ao longo dos últimos trimestres, e isso graças ao Android, que permitiu a muitas fabricantes seguir a luz e deixar para lá os aparelhos apenas de voz. Com isso, a demanda por gadgets mais poderosos está se expandindo bastante, dando espaço para todo mundo ganhar clientes.
O sucesso da Apple é bem maior em mercados cheios de smartphones, pois este tipo de aparelho torna os consumidores mais exigentes e receptivos aos benefícios que um iPhone traz. Além disso, eles também despertam nas operadoras a necessidade por uma infraestrutura decente para sustentar um maior tráfego de dados. O Android tem agido, portanto, como uma espécie de desbravador de territórios, tornando mercados inóspitos para smartphones mais receptivos, além de ajudar a indústria de celulares como um todo a manter os preços médios de venda em níveis interessantes para fabricantes de aparelhos robustos.
Quem diria: a existência do Android acaba beneficiando o iPhone. Agora sim, fomos todos surpreendidos novamente. 😛
