O melhor pedaço da Maçã.

Artigo de leitor: “Não comprarás?”

Apple money (maçã em cima de dinheiro)

por Aloisio Andrade

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Refletindo sobre aquele abaixo-assinado que exigia da Apple explicações sobre os preços abusivos dos iProducts no Brasil — o qual obviamente assinei ainda que com certo pudor ideológico, já que se tratava de um manifesto que visa incrementar o consumo e não diminuí-lo, o que pareceria mais sensato —, concluí que se tratava de uma grande bobagem. Mas uma bobagem sensacional.

Apple money (maçã em cima de dinheiro)Ao se pedir explicações sobre a ausência de descontos no preço final dos iProducts, já que há incentivos fiscais que os justificariam, além de se questionar a falta de critérios para os aumentos — porque lá fora os mesmos produtos da Apple aumentaram pouco, enquanto no Brasil subiram *absurdamente* —, se expõe justamente o que a empresa quer ouvir: “Estamos doidos para comprar. Só não estamos podendo, porque está caro demais.” Por intermédio de um conhecido que viaja ao exterior ou negociante de importados, ou através das 12 facadas sem juros que apenas escamoteiam a realidade abusiva dos preços, sim, nós os compraremos, só vai demorar mais um pouquinho.

A única medida eficaz contra a redução de preços — e não o barateamento, porque os iProducts serão logicamente sempre produtos de elite, pois essa é a marca da empresa — seria o boicote ao consumo, o que é impossível tendo em vista que são ótimos, criativos e funcionais. Comprar no exterior dá no mesmo que adquirir os nacionais, já que se trata de uma empresa mundial — o lucro em dólar, euro ou reais ainda será lucro.

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O abaixo-assinado foi um manifesto, todavia, que revelou mais do que a indignação, mas a frustração dos brasileiros por se saberem vítimas de um sistema socioeconômico cheio de contradições. “Quero comprar, mas quero comprar certo, pois ralo muito pela minha grana”, é como se estivéssemos gritando. A garantia de excelência, todos sabemos, não é uma marca do que temos comprado aqui no Brasil, sejam produtos, sejam serviços — principalmente esses últimos.

A nova lógica econômica parece ser não mais a crítica ao consumismo, mas a conscientização acerca do que representa o exercício de consumo. O problema do manifesto não é sua finalidade, mas ignorar que os brasileiros começaram a entender o que é “comprar bem” há pouco mais de dez anos. Não surtirá efeito porque é “romântico”, idealista e por isso me tocou. Porque partiu de pessoas que são consumidoras conscientes.

Quando todos o formos, entendendo o que significa “comprar bem”, deixando de comprar coisas insensatamente caras, não pagando por serviços descaradamente péssimos e ignorando as ofertas traiçoeiras, as empresas nos oferecerão os mesmos produtos vendidos no exterior, com a mesma qualidade, garantia e assistência, com os preços justos. Vai demorar, mas manifestos como esse já expõem que há indivíduos pensando juntos. Ou melhor: pensando diferente.

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