O melhor pedaço da Maçã.
Palm Royale

“Palm Royale” tem crítica social cômica e ácida, mas ameaça abusar da nossa hospitalidade

A essa altura, já podemos identificar uma certa fórmula nos lançamentos televisivos recentes do Apple TV+: pegue uma premissa intrigante, contrate um criador/showrunner com bons créditos em seu currículo do IMDb — não os mais caros ou famosos, mas aqueles que estão esperando o seu momento de brilhar por conta própria —, monte um elenco cheio de queridinhos do Letterboxd — de novo, não os maiores astros ou estrelas, mas profissionais respeitados em seu ofício e com alguma base de admiradores — e despeje dinheiro do seu cofrinho infinito para criar uma produção impressionante e visualmente impecável.

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Às vezes, a aposta dá certo (“The New Look” e “Constellation” são dois exemplos recentes), enquanto em outras (cof cof “Masters of the Air” cof cof) falta uma liga para amarrar todos esses elementos — e a liga quase sempre é um roteiro mais afiado.

“Palm Royale”, nova minissérie de comédia da Maçã, não está nem no extremo mais bem-sucedido dessa escala, nem no mais desafortunado. Mas a boa notícia é que a produção, que estreou na última quarta-feira (20/3) com três dos seus dez episódios já disponíveis, pesa mais para o lado positivo da balança — tudo graças a uma crítica social espirituosa do seu showrunner, Abe Sylvia, e da sua sala de roteiristas, bem como uma fileira de performances cômicas de primeira linha no seu elenco principal. É só uma pena, então, que os episódios (ao menos os três primeiros, que são os que estamos avaliando aqui) sejam tão longos, a ponto de cansar o espectador.

A história, ambientada na alta sociedade de Palm Beach (Flórida, EUA) em 1969, gira em torno de Maxine Simmons (Kristen Wiig), uma alpinista social que, por meio de uma improvável conexão com a velha socialite Norma Dellacorte (Carol Burnett), tenta a todo custo conquistar o seu lugar nas mais altas rodas das dondocas. Para isso, entretanto, Maxine terá de lidar com uma série de figuras no mínimo complicadas, como a “vice-abelha-rainha” Evelyn Rogers (Allison Janney), que está apenas à espera da morte de Norma para assumir a liderança das ricaças, e a dona de casa Dinah Donahue (Leslie Bibb), que, como Maxine, também está numa trajetória ascendente naquele métier e vê a protagonista como sua arquirrival.

É óbvio que, com uma premissa dessas (baseada no livro “Mr. & Mrs. American Pie”, de Juliet McDaniel), Sylvia não desperdiçaria a oportunidade de fazer uma série de críticas observacionais à mais alta roda da sociedade estadunidense, suas hipocrisias e sua corrupção intrínseca. E é justamente nesse tom que “Palm Royale” encontra seu maior êxito, conseguindo criar situações e reviravoltas que, ao mesmo tempo em que colocam o humor como prioridade, não deixam de expor aquelas pessoas e aquele cenário à sua natureza intrinsecamente ridícula.

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Nesse sentido, é interessante notar que, ainda que a ambientação da minissérie exista numa espécie de vácuo — afinal, ali dentro daqueles altos muros pensados para separar a high society da ralé, ninguém está muito preocupado com a Guerra do Vietnã, com a luta pelos direitos civis ou outros temas socialmente relevantes do período —, vários temas encontram eco com questões amplamente discutidas hoje em dia, como direitos reprodutivos e o bom-mocismo dissimulado que representa boa parte da filantropia realizada pelas classes mais altas. Os diálogos de Sylvia (que tem no currículo a série “Dead to Me” e o filme “Os Olhos de Tammy Faye”, entre outras produções) e seu time de roteiristas são muito bem-sucedidos em trazer esses temas sérios à tona sem nunca pesar demais o ambiente ou desviar a série da sua proposta majoritariamente cômica.

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Digo “majoritariamente” porque, para quem estava esperando algo na veia de “Acapulco” (outra série da Apple ambientada num cenário praiano paradisíaco com vários personagens ricaços), “Palm Royale” tem algumas incursões bem interessantes para o terreno da comédia dramática. E que bom ver uma atriz do calibre de Kristen Wiig, tão conhecida por seu humor excêntrico e histriônico, adotar um registro mais sutil, mais humanizado — mesmo com todos os seus defeitos, sua Maxine tem uma espécie de intensidade gentil que até desconcerta, no início, mas logo passa a fazer todo o sentido para o (que eu presumo que seja) o arco narrativo da personagem.

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No elenco coadjuvante, pasmem: quem rouba a cena num desfile de atrizes oscarizadas (Alisson Janney, Laura Dern) é Ricky Martin: como o barman Robert, o ex-Menudo mostra sua habitual veia cômica, mas também uma habilidade dramática que raramente exibiu em suas incursões anteriores frente às câmeras — suas dobradinhas com Wiig compõem alguns dos melhores momentos da minissérie, e seu personagem é uma âncora importante para fincar a narrativa de “Palm Royale” na realidade e não se deixar levar completamente pelas leviandades do seu universo.

Por outro lado, aqui vai minha primeira crítica: se você vai contratar uma lenda da comédia como Carol Burnett para um papel regular numa minissérie (e, por consequência, deixar todos os seus fãs, como este que vos escreve, ouriçados por ver a diva de 90 anos novamente em um papel de destaque), certifique-se de que Carol Burnett estará em tela por mais tempo do que vimos nos três primeiros episódios. É provável que sua Norma apareça mais em tela nos capítulos seguintes, mas, de qualquer forma, fica a ameaça o lembrete. 😛

E, já que estamos falando das partes negativas, é impossível esconder que, em certos momentos, “Palm Royale” cansa. Se antes havia uma regra clara nas séries estadunidenses — dramas têm episódios de 40-60 minutos, e comédias episódios de 20-30 minutos —, a era dos streamings borrou de vez as diferenças entre essas duas categorias, e hoje em dia… bom, basicamente não existem mais regras. Por vezes isso é ótimo (uma série maravilhosamente estressante como “The Bear”, por exemplo, seria quase impossível de assistir com episódios mais longos), mas, num geral, diz o bom-senso que comédias funcionam melhor em doses menores. E os episódios de “Palm Royale”, com quase uma hora de duração, muitas vezes acabam indo muito além do que deveriam e dando um certo ar de cansaço às situações, como se os roteiristas estivessem tentando criar conflitos para estender o tempo de tela.

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Ainda assim, mesmo quando o tédio ameaçar bater, ao menos a produção se beneficia de uma recriação absolutamente estonteante do seu período e lugar: o universo criado pelo diretor Tate Taylor (“Histórias Cruzadas”) e pelos demais cineastas que comandam os capítulos de “Palm Royale” é um prazer de se admirar, com uma fotografia quente que faz um delicioso contraste irônico com a frieza artificial das relações apresentadas (ou a maioria delas, pelo menos).

Por essas e outras, “Palm Royale” é mais um acerto do Apple TV+ — e fica a torcida para que a fórmula continue rendendo frutos como esse.

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