E o processo contra o Google em razão do acordo com a Apple que o definiu como motor de busca padrão do Safari não para! Agora, o mais novo desenvolvimento do caso é a revelação da porcentagem repassada à Maçã da receita da gigante de Mountain View auferida com anúncios a partir do acordo: 36%.
Como repercutido pela Bloomberg, essa informação é — ou, ao menos, era — sigilosa. Ela foi revelada por Kevin Murphy, principal especialista em economia da Alphabet (controladora do Google) e professor da Universidade de Chicago, durante o seu depoimento no contexto do caso.
No momento em que ele falou a proporção da receita com anúncios recebida pela Apple, o principal advogado do Google ficou bastante envergonhado. Anteriormente, a empresa já havia dito que a divulgação de mais informações sobre o acordo prejudicaria a posição da gigante das buscas perante os concorrentes.
Vale lembrar que já se sabia que o Google paga, anualmente, US$20 bilhões à Maçã para ser o buscador padrão do Safari nos seus dispositivos, representando cerca de 15% dos lucros anuais da Apple. Esse acordo está, agora, sendo questionado pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DoJ, na sigla original) perante o judiciário do país, sob alegações de minar a concorrência em matéria de motores de busca.
É importante notar que quem está sendo questionado é o Google, não a Apple. Pode-se entender que os termos do acordo fazem até mesmo com que a Maçã se desestimule a desenvolver um motor de busca próprio e, assim, não compita com a gigante de Mountain View. Com o possível resultado do julgamento indo de encontro ao acordo, porém, a Maçã já estaria se preparando para lançar o seu próprio buscador.
Caso perca o julgamento, é possível que acordos similares que a empresa tem com outras companhias, como a Samsung e a Mozilla, sejam encerrados. Quanto ao acordo com a Apple, ele poderá ser dissolvido, exigindo que a Maçã passe a, por exemplo, perguntar aos usuários qual buscador deve ser usado, sem definir o Google como padrão caso o usuário não selecione outro, o que já é possível atualmente.
A decisão deverá ser tomada apenas no ano que vem. Além disso, o Google certamente impetrará recursos de modo a tentar mudar a decisão, o que deverá atrasar ainda mais mudanças motivadas por um possível veredito desfavorável à gigante das buscas.
Atualização15/11/2023 às 09:00
Após a revelação pelo especialista, o CEO1Chief executive officer, ou diretor executivo. da Alphabet Sundar Pichai confirmou a informação ao depor em outro caso, este da Epic Games contra o Google, sob acusações de que a loja de aplicativos da empresa constitui monopólio (eu já vi isso antes…). O advogado da desenvolvedora de games perguntou diretamente sobre a porcentagem e o executivo referendou o dado.
Como repercutido pela CNBC, o representante da Epic foi além e perguntou a quantia exata paga à Apple pela sua fatia da receita de anúncios. Pichai, então, respondeu que seriam US$10 bilhões, embora o advogado tenha questionado o valor e argumentado que o número correto seria de US$18 bilhões. Em 2021, o valor total recebido pela Maçã, segundo o The Hill, teria sido de US$26,3 bilhões pelo acordo.
Outro aspecto interessante dessa saga é que o Google também tem acordos semelhantes com empresas além da Apple, como a Samsung e até com operadoras. No caso da sul-coreana, perguntado se a fabricante receberia menos da metade (cerca de 16%) do que a Apple recebe da receita de anúncios, Pichai falou que não tinha certeza, mas que seria possível, afirmando que “é como maçãs e laranjas” e dizendo que a Maçã compete “ferozmente” com a gigante das buscas.
Ao total, o Google gastou US$49 bilhões em 2022 com custos de aquisição de tráfego — ou seja, com todos os acordos que tornam o buscador o padrão em diferentes sistemas e aparelhos. No julgamento sobre o acordo, as empresas pediram ao juiz para manter as quantias em sigilo, mas o magistrado não aceitou a solicitação, afirmando que as coisas deveriam ser feitas às claras.
Sigamos acompanhando!
Notas de rodapé
- 1Chief executive officer, ou diretor executivo.